Por Lorenna Montenegro
Direto de Cannes, França
Sexta-Feira, entardecer. Botei os pés no tapete vermelho do maior festival de cinema do mundo e não tive mais do que alguns segundos para processar o fato, sendo logo inundada pelas centenas de vozes em vários idiomas, gente correndo com credenciais diversas e coloridas no pescoço, pelos corredores em direção as salas de cinema, sala de conferência de imprensa, salas de reunião e para o mercado audiovisual.
Com um fuso horário cinco horas à frente do Brasil, que dá uma boa dimensão do que é estar em outro país, quase que numa outra realidade com tempo suspenso. Porque é preciso suspender a si mesma para focar no trabalho hercúleo que é cobrir o Festival de Cinema de Cannes, em sua septuagésima oitava edição, aqui, nessa (não tão pequena), aristocrática e muito charmosa cidade da riviera francesa.
Tem que ter preparo físico e mental além de paciência para lidar com a equipe do festival, que não fala inglês ou fala um inglês muito precário, enquanto pedem “pardon” com olhos agradecidos e esta repórter/crítica de cinema tenta em retribuição se comunicar em francês e falha miseravelmente, até que não consegue descobrir qual é a sala Buñuel antes de passar três minutos do horário da sessão e receber um « désolé madame » e ter que escolher outro filme e reprogramar o dia.
Mas é bem verdade que, mesmo com perrengue, a experiência de estar ao vivo e a cores no templo dos filmes é mágico. Ver diretores e diretoras admirados, astros e estrelas como Tom Cruise, Robert De Niro, Emma Stone, Joaquin Phoenix, Robert Pattinson, Kristen Stewart, Bono Vox do U2, Jennifer Lawrence, Nicole Kidman e Pedro Pascal, para ficar só nos que passaram ou ainda estão em Cannes nesses primeiros dias da primeira semana de festival.
Ver o Brasil brilhando forte, como país homenageado nesta edição do Marché du film, o Mercado audiovisual de Cannes, não tem preço. E eu faço parte da maior delegação da história brasileira no festival, com mais de 400 profissionais da nossa indústria de cinema.
Apesar do deslumbramento e felicidade em fazer essa cobertura e lutar diariamente pelos ingressos quando a bilheteria online abre, ainda não passei por nenhum arrebatamento cinematográfico: falando da competição pela palma de Ouro, Eddington (de Ari Aster), uma sátira pós covid sobre masculinidade tóxica se utilizando da estilística do western; Nouvelle Vague (de Richard Linklater), a bonitinha porém ordinária homenagem aos “jovens turcos” da revista cashiers du cinema que criaram a nouvelle vague e uma carta de amor ao próprio festival; e Die My Love (de Lynne Ramsay) uma viagem delirante e dolorosa pela sensorialidade de uma mãe com depressão pós parto, aparentam estar longe de qualquer premiação.
A ver como a corrida pela palma de ouro prossegue e se consigo ver mais e melhores filmes daqui em diante.