A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, abandonou seu depoimento à Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado nesta terça-feira, 27, depois de o senador Plínio Valério (PSDB-AM) dizer que ela “não merece respeito”. Em outra ocasião, ele já disse que tinha “vontade de enforcar” a ministra. Marina exigiu um pedido de desculpas e, como não o recebeu, decidiu sair da sessão.
“Ministra Marina, que bom reencontrá-la. Ao olhar para a senhora, estou vendo a ministra, não estou falando com a mulher. A mulher merece respeito, a ministra não. Por isso eu quero separar”, disse o senador tucano. O senador do PT, Rogério Carvalho (SE), fez uma intervenção na sessão para tentar defender Marina. O clima já estava bastante conturbado e o petista sugeriu que, se a situação não se amenizasse, a ministra fosse embora.
Marcos Rogério (PL-RO), que presidia a sessão, pediu respeito aos senadores, mas questionou a ministra. “A senhora me atribuiu a pecha de apoiador de ditador”, disse. Marina relembrou o episódio em que Valério sugeriu enforcá-la e disse que ele deveria fazer um pedido de desculpas a ela, por reiterar uma fala desrespeitosa na sessão desta terça (assista acima).
“Como eu estou convidada como ministra, ou ele me pede desculpas, ou eu vou me retirar. Porque eu fui convidada como ministra. E se como ministra ele não me respeita, eu vou me retirar”, disse Marina. Valério rebateu: “eu não vou pedir desculpas. Não tenho nada contra mulher”. O tucano tentou “explicar” a sua fala. Marcos Rogério disse que, se a ministra quisesse se retirar, poderia. Depois disso, Marina deixou a sessão.
Esse não foi o único constrangimento a que a ministra foi submetida no seu depoimento. Mais cedo, Marcos Rogério disse que Marina deveria “por-se no seu lugar”, justamente enquanto tentava falar algo sobre o machismo com que a minstra é tratada em muitas ocasiões.
Reveses
O constrangimento a que Marina foi submetida na sessão desta terça se soma aos reveses que tem sofrido na pauta do meio ambiente. Na semana passada, o Senado aprovou novas regras para o licenciamento ambiental que são alvo de críticas de ambientalistas, por permitir, por exemplo, que atividades que não ofereçam risco ambiental ou que sejam executadas por questões de soberania ou calamidade pública não sejam obrigadas a adquirir a licença.
No último dia 19, depois de uma briga que se arrastou por anos, o Ibama (autarquia que está sob a aba do Ministério do Meio Ambiente), emitiu as licenças necessárias para que a Petrobras faça as primeiras perfurações para pesquisar a existência de petróleo na foz do Rio Amazonas. Marina criticou diversas vezes a investida da Petrobras e chegou a ser pressionada publicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a apoiar a exploração do minério na região.