Especialista em monitoramento de redes aponta que 77% das menções sobre o vídeo foram negativas e que assunto sobrepôs o esquema fraudulento de desconto dos aposentados, tema até então mais comentado do dia
A divulgação do vídeo que mostra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sendo intimado, no hospital, sobre a abertura da ação penal do plano de golpe ajudou a “abafar” a repercussão negativa para o governo Lula sobre a fraude no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). A conclusão é do analista em monitoramento de redes sociais Pedro Barciela, que divulgou nesta quinta-feira, 24, os resultados do levantamento realizado no dia anterior.
Segundo a análise, a repercussão do vídeo logo após ser publicado ultrapassou, do final da tarde até terminar o dia, o assunto que dominou a rede social X (antigo Twitter) até então: a investigação de desvios bilionários em descontos de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).
Até as 17h desta quarta-feira, 23, Bolsonaro mantinha cerca de 10 mil menções por hora na rede social. No mesmo horário, menções ao termo “INSS” eram o dobro, pouco mais de 20 mil.
Após a divulgação do vídeo, em que o ex-presidente se irrita com a oficial de Justiça, as menções a ele bateram 40 mil às 19h e chegaram ao pico, de quase 50 mil, às 20h. Nos mesmos horários, a crise no INSS, tema sensível ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que luta contra a baixa popularidade, não chegou a 30 mil menções.
Ao fim do dia, as citações à fraude no INSS foram 20 mil, enquanto as menções ao ex-presidente se sobrepuseram, alcançando 25 mil. A maioria das publicações sobre a estratégia de Bolsonaro na rede, contudo, foi negativa: 77% do total.
“A divulgação do vídeo por Jair Bolsonaro e sua equipe não apenas o colocou em evidência como ajudou indiretamente o governo ao ‘estancar’ momentaneamente as conversações sobre o INSS”, analisou Barciela.
Gráfico do analista de redes Pedro Barciela mostra quantidade de menções que os assuntos tiveram no X (antigo Twitter), por hora, nesta quarta-feira, 23.
Foto: @Pedro_Barciela via X (antigo Twitter) / Estadão
A análise ainda mapeou a frequência com que a pauta da anistia aos condenados pelos ataques golpistas de 8 de Janeiro circulou pela rede social nas últimas semanas. Segundo levantamento, houve um “arrefecimento drástico” do assunto desde que Bolsonaro foi operado, dia 13 deste mês.
As menções chegaram a 1,4 milhão na semana do dia 31 de março, na qual o ex-presidente reuniu 44,9 mil apoiadores na Avenida Paulista, em São Paulo, no domingo seguinte, dia 6 de abril. Segundo Barciela, as publicações não fazem parte de um “debate orgânico”, mas sim “alimentado artificialmente pela oposição” ao governo.
A quantidade de menções à anistia, principal pauta do bolsonarismo e que tenta sobreviver na Câmara com ajuda de aliados, foi maior que o dobro do período anterior, mostrando que houve uma movimentação nas redes para aquecer a pauta. Já nesta semana, o volume de menções nem sequer chegou aos 100 mil.
“O fato de a debilidade da pauta da anistia se mostrar tão explicitamente correlacionada com a debilidade de Bolsonaro é preocupante para um ex-presidente que, ao longo dos últimos anos, sempre deixou claro que não carrega feridos”, relacionou o analista.