O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
O secretário de Segurança de Porto Alegre, Alexandre Aragon, está em Israel, na cidade de Kfar Saba, a cerca de 25 quilômetros de Tel Aviv, em uma missão internacional a trabalho, participando de um curso para conhecer as tecnologias do país.
O secretário tem compartilhado suas impressões nas redes sociais. Na tarde desta sexta-feira (13), ele conversou com a coluna após deixar um bunker, em razão do bombardeio do Irã contra Israel, em resposta ao ataque inicial. Confira a entrevista abaixo.
Por que o senhor está em Israel?
O Centro de Operações de Porto Alegre está sendo remasterizado, ou seja, agregando novas tecnologias. Nós estamos agora em obras. As nossas instalações talvez se transformem no maior centro de operações da América Latina, e estamos buscando a melhor tecnologia. Entendemos que deveríamos nos agregar não só à questão física, mas também à tecnologia que Israel tem, adaptada às necessidades de Porto Alegre. Aqui, se prevê, se identifica muito antes quando um míssil vai ser lançado a partir do Irã. A partir daí, iniciam-se diversos procedimentos, inclusive com a população, que é deslocada e indicada, até pelo telefone, a locais seguros e quanto tempo tem para chegar até esses pontos. Estamos vendo essa tecnologia aqui para adaptá-la a nossas necessidades aí em Porto Alegre.
Como foram os últimos dias e horas, depois do início dos ataques?
Kfar Saba fica a cerca de 50 minutos de carro de Tel Aviv. Israel é muito pequeno. Cheguei no dia 9 e deveria voltar dia 20. No entanto, a partir de agora, estamos aguardando o posicionamento internacional, o desenvolvimento das coisas, o que vai acontecer aqui. Mas o curso segue em andamento. Esse aqui é um povo muito acostumado com crises, e o curso segue o seu andamento normal, só mudaram os locais. Estamos trabalhando com uma equipe de toda a América Latina, são diversas pessoas. Do Rio Grande do Sul, apenas eu, mas outros 16 brasileiros estão aqui. A missão é agregar tecnologias, verificar o que podemos aproveitar aqui.
Como foram os primeiros alertas?
Às 3h (21h de quinta-feira, 12, em Brasília), tivemos o primeiro alerta. Cada prédio em Israel tem seu próprio abrigo, e fomos deslocados. Mas a situação aqui é bastante tranquila. Seria uma situação bem semelhante ao que vivenciamos na (pandemia de) covid-19. O comércio está fechado, e as escolas, também. Mas a população segue a sua vida normal, estão acostumados e preparados. É isso que estamos buscando, esse tipo de resiliência, de preparação que estamos buscando para o Brasil, no caso, para Porto Alegre.
A população está acostumada, mas como a comitiva e os participantes do curso reagiram?
É uma equipe multitarefas, então tem pessoas que não estão acostumadas com crise. No nosso caso, por termos passado pela crise em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e no meu caso, por ter trabalhado em outras em outras missões, foi bastante tranquilo, é só seguir a orientação. Eles estão acostumados, e nós obedecemos exatamente a orientação. Aqui, as crianças são treinadas. Quando vamos para o abrigo, já existe uma equipe de resiliência que recebe a todos, então há inclusive um pessoal para o entretenimento das crianças. Basicamente, aprendemos a fazer isso em Porto Alegre, agora temos que sistematizar esse tipo de coisa. Claro que o nosso caso não é de guerra, mas temos de estar preparados para esse tipo de desastres e questões sociais. Então, é isso que estamos trabalhando. É claro que, para quem não está acostumado com esse tipo de crise, para muita gente, foi algo chocante.
O acesso à informação é fácil?
Sim, imediatamente, quando o ataque começou, todos os celulares tocaram e avisaram: “Você deve se dirigir ao abrigo mais próximo”. E (a mensagem) indica qual o abrigo (a pessoa deve se deslocar), conforme a tua posição, informando, inclusive o tempo que tu tens para chegar nesse local. Por esse último aviso, eu tinha um minuto e 20 segundos para estar dentro do abrigo, porque os mísseis estavam vindo. Hoje, tivemos uma reunião com a inteligência de Israel. Não vou passar detalhes, é claro, mas existe uma perspectiva de que essa situação se acalme em breve.
E vocês têm perspectiva de sair de Israel?
Não, não existe perspectiva, existe o plano Alfa, o plano Bravo, o plano Charlie (planos A, B e C, no jargão técnico). Então, se as coisas andarem de determinada forma, no plano A seria de três a quatro dias para que o espaço aéreo seja liberado. Mas eu vim para uma missão, minha missão que se esgota no dia 20. Pretendo ficar até o final, se não houver algum indicativo contrário.
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