Durante uma operação da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) para combater a venda de gelo contaminado para bares e quiosques na Cidade de Deus nesta segunda-feira, traficantes do Comando Vermelho (CV) reagiram à presença dos agentes e atacaram as equipes que iriam cumprir mandados judiciais. Durante intenso confronto, o policial José Antônio Lourenço, lotado na Core, foi morto após ser baleado no rosto. Por causa do confronto, 23 escolas públicas das redes estadual e municipal de Educação foram fechadas. Professores de algumas dessas unidades relatam que o tiroteio começou já durante as aulas. Uma das profissionais conta que ao primeiro som de disparos, seus alunos começaram a ficar desesperados e gritar: “tia, é tiro, é bomba”. Eles ainda contam a rotina de medo e violência para trabalharem na região.
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— Eles têm um misto de medo e costume, que é triste de ver. Um grupo de seis alunos mais novos ficaram abraçados comigo e passando a mão no meu cabelo, como se estivessem me consolando — conta ela.
Desde o julgamento da ADPF das Favelas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no último mês, não há mais a obrigação de aviso prévio de operações a escolas e hospitais em comunidades fluminenses. Nesta segunda, as secretarias de Educação foram notificadas já durante a operação. Por isso, dizem os professores, as escolas estavam funcionando normalmente nesta manhã.
Em uma rede social, o governador Cláudio Castro (PL) disse que quem fechou as escolas foram os criminosos:
“É importante deixar claro: quem fecha escolas e hospitais e paralisa serviços públicos, não é o Estado, não é a polícia. São os criminosos. São eles que oprimem a população e tentam impor o medo nas comunidades. E é contra isso que nós estamos lutando todos os dias”, escreveu Castro.
No Rio, a secretaria municipal de Educação diz que, numa parceria com a Cruz Vermelha Internacional, as escolas abrem ou fecham seguindo o protocolo “Acesso Mais Seguro”. Por isso, estudantes são colocados em locais analisados como seguros previamente, como sentados em corredores colados em paredes.
Os professores contam ainda que enfrentam diariamente uma rotina de medo imposta pelos traficantes da favela. Um deles lembra que precisa passar por barricadas e homens fortemente armados para chegar à escola. Ano passado, as crianças passaram por outro momento de terror. Os criminosos ficaram por minutos disparando armas de fogo de grosso calibre e fogos após a morte de um traficante como uma forma de “homenageá-lo”.
— Colegas já ficaram com problemas de saúde por virem trabalhar aqui. Todos os dias é muito tenso vir trabalhar, não sabemos se será um dia de tranquilidade — relata outro professor.