Viúva do policial civil da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) José Antônio Lourenço Junior, a advogada Marcelle Persant postou, há dois meses, um texto em que falava sobre o temor pela profissão dele e o dilema que vivia como esposa dele. O agente morreu nesta segunda-feira, durante uma operação na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio.
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Na postagem, Marcelle compartilhou um registro feito em 2024 de José num hospital, mostrando uma das mãos dele com lesões — ela não esclareceu em que circunstâncias o marido se machucou. “Hoje não é o dia do policial. E talvez não seja o melhor momento para se postar uma foto com um policial civil da Core”, escreveu ela.
“Imagine só o dilema: de um lado, o crime organizado. Bandidos por todo lado, nas ruas e nas redes, prontos para tirar a vida do primeiro policial que aparecer na frente. Do outro, uma sociedade hipócrita e preconceituosa com o trabalho da polícia. Longe dos extremos tem muita gente, incluindo eu: a esposa do policial. A gente fica no meio — bem no meio — dessa confusão”, seguiu a advogada.
“É um misto de sentimentos: ‘Será que esse é o último dia que vejo meu marido?’, ‘O trabalho da polícia é tão necessário… por que tanto ódio?’, ‘Arrebenta aí, amor! Estou em oração por vocês’, ‘Meu amor, vale a pena trabalhar por essa sociedade? Vale a pena defender pessoas que nem aprovam seu trabalho?'”, desabafou.
Marcelle afirma que não era fácil ser casada com um policial e destacou o orgulho que sentia de José: “Dizem que um casal sem admiração não dura muito tempo. Tá aí uma coisa que não me falta: admiração por você”.
Ela finalizou afirmando que sabia que, como esposa de um agente, também poderia ficar em perigo. “Com você eu escolho todos os dias a coragem em vez do medo. Eu simplesmente confio, mesmo sabendo dos riscos que eu também corro. Porque sinto que estar com você me faz uma mulher mais forte, inteira e cada vez mais consciente. Te amo”.
José foi baleado na cabeça durante uma operação de policiais civis e equipes do Instituto estadual do Ambiente (Inea) e da Cedae para combater venda de gelo contaminado para bares e quiosques das praias da Barra da Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes, ambos na Zona Oeste. O agente chegou a ser socorrido para o Hospital municipal Lourenço Jorge, mas não resistiu.