Embora os níveis educacionais do Brasil venham melhorando ano após ano, o País ainda não conseguiu cumprir a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) de erradicar o analfabetismo, o que deveria ter acontecido no ano passado. Segundo a nova edição da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad) da Educação, em 2024 ainda havia 9,1 milhões de brasileiros (5,3% da população) que não sabiam ler nem escrever.
Os dados foram divulgados nesta sexta-feira, 13, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o Programa Nacional de Educação (PNE), de 2014, o Brasil deveria reduzir a taxa de analfabetismo a, no máximo, 6,5% até 2015 e erradicá-la completamente até 2024.
O perfil do analfabeto brasileiro revela profundas desigualdades de acordo com a idade, a raça e a região do País. Quanto mais velho o grupo populacional, maior a proporção de analfabetos, mostra o novo levantamento, um reflexo das melhorias da inclusão educacional nas últimas décadas e da falta de políticas de alfabetização de adultos. Na faixa etária dos 60 anos ou mais, os analfabetos eram 5,1 milhões, 14,9% do total de pessoas desse grupo etário.
Entre os mais jovens, as porcentagens diminuem progressivamente: 9,1% entre as pessoas com 40 anos ou mais, 6,3% entre aquelas com 25 anos ou mais e 5,3% na população com 15 anos ou mais – a menor porcentagem da série histórica iniciada em 2016, quando era de 6,7%.

Brasil ainda tem número alto de analfabetos. Foto: Lidija – stock.adobe.com
Os dados indicam, de acordo com os pesquisadores, que as novas gerações estão tendo maior acesso à escolarização e sendo alfabetizadas ainda na infância e reforçam a importância da adoção de políticas específicas para alfabetização de adultos e idosos.
“Olhando para os dois grupos fica muito claro que o analfabetismo atinge muito mais as pessoas mais velhas do que as mais novas”, afirmou o pesquisador William Krachotwill. “Ou seja, há um legado histórico do analfabetismo do passado que vem sendo carregado pela população.”
A análise por cor ou raça evidencia a persistência das desigualdades de acesso à educação. Em 2024, somente 3,1% das pessoas brancas eram analfabetas, enquanto a taxa entre os pretos e pardos era mais que o dobro, 6,9%. Como na população em geral, o problema se agrava mais nas faixas etárias mais elevadas.
Entre aqueles com 60 anos ou mais, 8,1% dos brancos eram analfabetos, contra 21,8% dos pretos e pardos, uma evidência do “legado de exclusão educacional”, segundo o levantamento.
As taxas de analfabetismo refletem também as diferenças regionais históricas, embora tenha havido reduções em todas elas. As regiões Nordeste e Norte apresentam as porcentagens mais elevadas: 11,1% e 6,0%, respectivamente. Em contrapartida, as menores taxas foram observadas nas regiões Sul (2,7%), Sudeste (2,8%) e Centro-Oeste (3,3%).
Da mesma forma, os Estados com as maiores proporções de analfabetos eram Alagoas (14,3%), Piauí (13,8%) e Paraíba (12,8%), enquanto as menores porcentagens estão no Distrito Federal (1,8%), Santa Catarina (1,9%) e Rio de Janeiro (2,0%). São Paulo vem logo em seguida, com 2,3%.