Suspeita é de que ex-presidente e ex-diretor da Abin aparelharam a agência para espionar desafetos. Já Carlos Bolsonaro teria usado as informações para alimentar “gabinete do ódio”. Caso está agora nas mãos da PGR.A Polícia Federal (PF) concluiu a investigação sobre um esquema de espionagem ilegal de celulares montado na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a chamada “Abin paralela”, e indiciou mais de 30 pessoas nesta terça-feira (17/06), incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A investigação mira servidores e políticos que teriam monitorado telefones e computadores de autoridades e desafetos de Bolsonaro durante seu governo usando um software hacker israelense.
A corporação acusa o ex-presidente de saber e se beneficiar do esquema. Além dele, o deputado federal e ex-diretor da agência, Alexandre Ramagem (PL-RJ), e o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PL-RJ), também estão entre os indiciados.
Ramagem teria estruturado a operação de espionagem enquanto comandava a Abin durante o governo do ex-presidente. Já Carlos Bolsonaro é apontado como o responsável por chefiar e articular uma estrutura apelidada de “gabinete do ódio”, que atacava adversários políticos de Bolsonaro e produzia desinformação com base nas informações obtidas de forma ilegal.
Eles foram acusados de compor uma “organização criminosa voltada ao monitoramento ilegal de autoridades públicas e à produção de notícias falsas”, disse a corporação. Operações contra os investigados foram conduzidas em outubro de 2023 e janeiro de 2024.
A atual cúpula da Abin também é acusada pela PF de atrapalhar as investigações. Para os agentes, houve conluio entre a atual gestão e a anterior.
O relatório final foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e o procedimento segue em tramitação sob sigilo. Agora, cabe à Procuradoria-Geral da República decidir se apresenta denúncia à Corte com base nas conclusões da PF. Bolsonaro e Ramagem já são réus na ação penal que apura a tentativa de um golpe de Estado no Brasil.
Ministros, políticos e jornalistas espionados
Segundo a PF, a espionagem era feita por meio da invasão de telefones e computadores usando o First Mile, software hacker israelense comprado pela Abin durante a gestão de Ramagem na Agência.
De acordo com o jornal O Globo, a PF descobriu que o software foi usado mais de 30 mil vezes, 2,2 mil delas contra jornalistas, políticos, advogados e adversários de Bolsonaro. Como o emprego do First Mile se deu para fins particulares, o monitoramento é considerado ilegal.
Ministros do STF, como Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, deputados federais como Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Maia (então DEM-RJ), senadores como Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (à época Rede-AP) estiveram entre os monitorados.
gq/ra (dw, ots)