Há quase três meses o Brasil celebrava a conquista de “Ainda estou aqui” no Oscar de melhor filme internacional, momento ápice em uma trajetória de muitos outros prêmios, como melhor roteiro no Festival de Veneza para Murilo Hauser e Heitor Lorega, e melhor atriz no Globo de Ouro para Fernanda Torres. Por meses, o país se viu vidrado em uma temporada de premiações com direito a reviravoltas e polêmicas. Passado o prêmio da Academia, muitos se questionavam: será que teremos um filme para reproduzir fenômeno parecido?
“O último azul”, de Gabriel Mascaro, com Rodrigo Santoro à frente do elenco, se colocou como um concorrente ao conquistar o Grande Prêmio do Júri do Festival de Berlim, o segundo mais importante do evento.
Agora, foi a vez de “O agente secreto”, de Kleber Mendonça Filho, mostrar suas cartas. O filme chegou fazendo barulho no Festival de Cannes, com direito a frevo no tapete vermelho e 13 minutos de aplausos em sua première de gala. Não fosse o bastante, o longa deixou o evento com os prêmios de melhor direção para Kleber e melhor ator para Wagner Moura, além do certificado de melhor filme pelo júri da crítica.
Mais do que prêmios, a trajetória de “O agente secreto” em Cannes mostrou que o filme se colocou muito bem como um postulante a reproduzir o fenômeno “Ainda estou aqui”. Desde o início do festival, o longa rodado em Recife, Pernambuco, ganhou muita atenção por parte da imprensa internacional. Neste sentido, é interessante notar que não é só o Brasil que busca um novo “Ainda estou aqui”. As publicações estrangeiras, que viram todo um novo tráfego vindo do país a partir da matérias e posts sobre Fernanda Torres, também parecem dispostas a continuar em busca deste público.
O prêmio para Wagner Moura, neste sentido, parece a cereja no bolo. Quem melhor para reproduzir o impacto de Fernanda do que um ator já reconhecido internacionalmente através de obras como “Narcos”, “Sr. e Sra. Smith” e “Guerra Civil”? Radicado em Los Angeles, o ator, inclusive, não pôde comparecer à premiação de Cannes por estar filmando em Londres um longa ao lado da atriz Greta Lee.
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Também chama atenção o fato de “O agente secreto” ter tido sua distribuição nos Estados Unidos adquirida pela Neon, companhia responsável por lançar “Anora”, grande vencedor do Oscar 2025. É bem verdade que a Neon comprou vários filmes em Cannes, incluindo a Palma de Ouro (o iraniano “Un simple accident”, de Jafar Panahi), e em algum momento pode acabar preterindo um ou outro na hora de concentrar seus esforços para o Oscar. Mas se depender do engajamento em suas redes, a companhia dificilmente abandonará o barco da produção brasileira. Desde que anunciou a aquisição de “O agente secreto”, os posts das redes da Neon vêm sofrendo com uma enxurrada de brasileiros.
Ainda é cedo para garantir que “O agente secreto” irá reproduzir o desempenho de “Ainda estou aqui”. E não será nada fácil. De toda forma, os prêmios no Festival de Cannes devem ser comemorados. Especialmente por reforçar um momento histórico do cinema brasileiro.