A CBN entrevista o fotógrafo brasileiro Walter Firmo, conhecido por retratar artistas da música brasileira, como Dona Ivone Lara, Cartola e Pixinguinha, além de fotografar festas populares no Brasil, como o Carnaval do Rio de Janeiro e o Bumba Meu Boi no Maranhão. Ele fala sobre o amigo e fotógrafo Sebastião Salgado, que morreu nesta sexta-feira (23), aos 81 anos.
No início da conversa, o CBN Brasil rememora um comentário do Sebastião Salgado sobre o que é a fotografia, em uma entrevista para o programa Roda Viva (TV Cultura):
“Quando eu realizo uma fotografia, ela já é um produto final a 95%. Ela falta um pouquinho de acabamento na cópia, tudo isso. Então eu reconheço que existe aí dentro uma ideia intrínseca de criatividade, existe uma ideia subjetiva da luz. Nessa fração de segundos, é muito difícil de você imaginar que essa luz está penetrando de uma maneira, que o quadro inteiramente controlado é esse, é uma coisa intuitiva. Fotografia instantânea é instinto, puramente instinto.”
Firmo destaca que era amigo de Sebastião Salgado e chegou a ficar hospedado em sua casa em Paris, em 1987. Anos mais tarde, em 2024, sem saber, estariam juntos pela última vez.
Nós fomos amigos, eu fiquei hospedado na casa dele em 1987, em Paris, durante 17 dias, e saudades daquele apoio fraternal que ele me deu, e tive com ele agora também, em setembro, na reunião de fotografia que se realiza em Paraty. Foi um encontro rápido, mas até que apertamos as mãos, nos olhamos nos olhos, mal sabíamos que era a última vez.
Walter Firmo descreve Sebastião Salgado como um homem que fotografava a pobreza e um guardião que revelava o mundo real em suas fotos.
Ele era um homem do mundo que vivia fotografando a fome, o desprezo. Sempre quem paga o pato é o pobre, que é humilhado e ofendido. E o nosso grande Sebastião foi um guardião de mostrar isso na sua vida durante a fotografia. Começou de repente como um homem que fez faculdade e que de repente ficou licenciado naquela coisa do café, onde ele trabalhou, mas que depois ele descobriu na fotografia a sua verdadeira vocação.
A obra de Walter Firmo é marcada pelas cores. O uso do preto e branco pode revelar essa característica do trabalho de Firmo, como, inclusive, fez Sebastião Salgado
“Eu sou um construtor de sonhos e fantasias. Quando a gente trabalha, veste a alma do artista e se impõe na fotografia o nosso prazer e querer, cada um usa a sua envergadura, a sua camiseta. Ele era um homem do preto e branco, eu sou também, mas a minha vocação é a banda de música, é a paixão, é a cor.”