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‘Nem estava pensando em prêmios’

Wagner Moura conheceu Kleber Mendonça Filho quando veio a Cannes em 2005 promover “Cidade baixa”, de Sérgio Machado. O premiado diretor pernambucano ainda era um crítico de cinema, iniciando-se na direção de filmes. Nascia ali uma admiração mútua, cultivada a princípio à distância, que anos depois resultaria em “O agente secreto”, com o qual o ator baiano acaba de ganhar o prêmio de melhor ator na 78ª edição do Festival de Cannes.

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— Houve uma conexão ali, naquele ano. Talvez porque fôssemos nordestinos. Aí vi “O som ao redor” (2012), que acho um dos melhores filmes do cinema brasileiro recente. Fiquei querendo trabalhar com o Kleber desde então — conta o ator de 48 anos, agora com o título de primeiro brasileiro a levar o prêmio de interpretação masculina em Cannes.

A seguir, trechos de entrevista com o ator no festival francês após a exibição do filme, antes de saber se seria premiado por sua atuação.

Qual o significado dos prêmios de “O agente secreto” aqui em Cannes?

Nem estava pensando em prêmios, não. Mas não estou dizendo que não quero (risos). Porque eu já estava tão feliz por ter feito esse filme. Geralmente, em estreias assim, eu fico um pouco nervoso. Mas aqui eu estava tranquilo. Vivi muita coisa boa com esse projeto, pude voltar a filmar no Brasil, a fazer um filme com o Kleber, com quem desenvolvi o projeto e do qual me tornei coprodutor… Um filme que nasceu de um encontro político e humano da gente. Acho que também estou ficando mais velho, menos ambicioso, e gostando mais de viver as coisas assim, com calma. Gostei de entrar com aquela batucada de frevo no tapete vermelho do cinema, por exemplo.

Imagina o impacto dos prêmios na carreira do filme dentro e fora do Brasil?

Acho que impulsiona muito a trajetória do filme, claro. Inclusive na temporada de prêmios, que começa logo depois de Cannes. Até porque Hollywood hoje é mais aberta a filmes internacionais. Os que ganharam em Cannes nos últimos anos foram parar no Oscar. Os do Kleber sempre foram muito bem lá nos EUA, então imagina o buzz que uma vitória aqui em Cannes vai gerar? Sem falar na bilheteria de “O agente secreto” no Brasil. E isso está acontecendo num momento bom, de reconexão do brasileiro com seu cinema. Minha mãe outro dia me ligou para dizer que foi ver “Homem com H”,do Esmir Filho, e adorou, e que ia ver “Vitória”, do Andrucha Waddington.

Seu último filme feito no Brasil, “Marighella”, que você dirigiu, também era um filme político. É um terreno com o qual se identifica?

Eu gosto de cinema político. Um menino me perguntou: “Qual filme você indicaria para jovens?” Eu sugeri que ele fosse ver os filmes do neorrealismo italiano, que são os filmes que fizeram a minha cabeça, que influenciaram a Nouvelle Vague francesa, o Cinema Novo brasileiro. Se não fosse os cineastas italianos do pós-guerra, lá atrás, com aquela estética muito particular, o cinema de diretores contemporâneos como Mike Leigh, Ken Loach, e dos irmãos Dardenne não existiria. “Marighella” tem essa estética.

Mas seu próximo filme como diretor, “Last night at the Lobster”, é anunciado como uma comédia dramática…

É sobre trabalhadores de um restaurante. Mas acho que tudo é político. Há filmes que são insuspeitavelmente políticos e a gente não percebe. O filme do Kleber é muito político. Se um filme conta uma história que toca o seu coração — e me desculpe o clichê —, que te transforma de alguma maneira, ele é político.

O Capitão Nascimento de “Tropa de elite” (2008) foi tomado como símbolo pela direita. “Marighella” e “O agente secreto”, engajados e politicamente ambiciosos, foram uma forma de superar aquele personagem?

Não faz sentido. Sempre defendi o “Tropa”. Quando começaram a dizer que o filme do (José) Padilha era um filme fascista, eu disse não, briguei, porque não sou fascista. O “Tropa” foi um dos filmes mais importantes da minha vida, devo a ele a minha carreira internacional. Eu e o Padilha fizemos recentemente uma sessão especial do “Tropa de elite” e da continuação, “Tropa de elite 2 — O inimigo agora é outro”, em Los Angeles, com debate com o público depois, e foi maravilhoso. Levei os meus filhos para assisti-los, pois ainda não tinham visto.

Como você localiza o seu personagem em “O agente secreto” nessa retomada do cinema ambientado durante os anos de chumbo brasileiros?

“O agente secreto” não é um filme de ditadura, é um filme que acontece durante a ditadura. “Marighella” é um sobre a ditadura, descreve um confronto com a repressão. O personagem que faço no filme do Kleber é um cara comum, que quer manter os valores que ele tem. Mas é difícil fazer isso, o que emana do poder é totalmente torto. Hoje estamos na situação de algumas pessoas dizerem que a Terra não é redonda. Acho o meu personagem muito bonito. Kleber o criou para mim. Ele criou uma história sobre personagens que estão em conformidade com a ditadura. Naquele prédio onde o meu personagem se abriga tem um menino potencialmente homossexual, uma preta de Angola, um estudante… ninguém ali é Marighella.

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