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‘Missão’, ‘festa’ e ‘reza’ eram senhas de grupo de extermínio para assassinatos, aponta Polícia

As primeiras suspeitas sobre o grupo de extermínio preso nesta quarta-feira, 28, pela Polícia Federal na Operação Sisamnes surgiram há mais de um ano. Mensagens encontradas no celular de um dos investigados acenderam o alerta. As conversas abordam “missões” e “festas” que, segundo os investigadores, seriam na verdade planos de execução sob encomenda.

Os diálogos estão transcritos em um relatório da Polícia Civil de Mato Grosso ao qual o Estadão teve acesso. O documento analisa mensagens trocadas pelo instrutor de tiro Hedilerson Fialho Martins Barbosa com o pistoleiro Antônio Gomes da Silva, o coronel Etevaldo Caçadini de Vargas e o sargento do Exército Gilberto Louzada da Silva. Todos foram presos nesta quarta. O Estadão pediu manifestação do coronel e busca contato com as demais defesas.

Naquele momento, a Polícia Civil já alertava: “Pelo que restou evidente dos diálogos acima, Hedilerson Barbosa, Cel. Etevaldo Caçadini, Gilberto (a investigar) e Antônio Gomes possivelmente fazem parte de uma rede organizada, voltada para a execução de terceiros, mediante a contratação e pagamento de seus respectivos mandantes.”

O grupo entrou na mira da Polícia de Mato Grosso na investigação do assassinato do advogado Roberto Zampieri, conhecido como “lobista dos tribunais”, em dezembro de 2023. O advogado foi atingido por oito tiros à queima-roupa na porta de seu escritório em Cuiabá.

Antônio Gomes da Silva foi o único que confessou o crime. Testemunhas o reconheceram e imagens de circuito de segurança o flagraram. Ele admitiu em depoimento que receberia R$ 40 mil pela empreitada. Para se aproximar do advogado e armar a emboscada, se apresentou como capelão e usou boina e bengala como disfarce.

O matador de aluguel afirmou à Polícia Civil que “não se arrepende do crime”. Chamou de “merda” o assassinato, segundo ele, “mal feito” por causa da “pressa” dos mandantes. Também detalhou aos investigadores que pretendia eliminar o advogado “longe do escritório, para não ter dificuldade para fugir”, mas não conseguiu ficar sozinho com ele em algum local mais afastado.

A partir da apreensão do celular de Hedilerson Fialho Martins Barbosa, dono da arma usada no crime, a Polícia Civil concluiu que o assassinato de Zampieri não foi isolado. Os investigadores em Cuiabá acreditam que o grupo envolvido na execução do advogado estaria ligado a um esquema estruturado de extermínios.

‘Missões’

Nas conversas, segundo a Polícia Civil, o grupo usava codinomes. O coronel Caçadini era o “engenheiro” e Antônio Gomes o “empreiteiro”. Também se valiam de senhas para se referir aos crimes, como “missões”, “festas” e “reza”.

Em um dos diálogos, que a Polícia Civil acredita ser sobre um dos assassinatos em planejamento, o coronel Caçadini orienta Hedilerson Barbosa a ficar “colado” com Gilberto Louzada.

“Aquela missão que ele falou começava domingo aí, eu não sei se começou. Tem que estar de olho naquele caboclo. Se ele está indo rezar realmente todo dia, como é que é. Às vezes até, ou se for a noite, pro nosso pessoal da prisão dar uma olhadinha nele, na tornozeleira dele. Ou então o empreiteiro fazer alguma coisa aí, entendeu?”

Coronel é aposentado como um dos líderes do grupo. Foto: Reprodução/inquérito policial

Em resposta, Barbosa pede “orientações” sobre como ele e Louzada deveriam agir. “Eu encontro com ele, e a gente conduz essa, esse bate-papo aí, na ausência do senhor, se o senhor achar viável. Se o senhor não achar viável, agente aguarda o retorno do senhor.”

Em outra conversa, segundo a Polícia Civil sobre mais uma execução, Louzada diz a Barbosa que havia feito o reconhecimento de um endereço e que a “tocaia” estava em andamento.

“Tive hoje a tarde no local do garçom! REC feito. A rua dele é esquina com rua Gabriel dos Santos! Tocaia em andamento”, escreve o sargento.

“Com relação ao bar que o garçom frequenta, só confirmar se ele é assíduo e qual horário trabalha sem faltar”, acrescenta Louzada.

Conversas abordam ‘tocaia’ e elogios a pistoleiro que confessou ter matado Zampieri. Foto: Reprodução/inquérito policial

O instrutor e o sargento também conversam sobre uma nova “missão” em “outra empresa”.

“A gente não conversou ainda a questão de valores, ainda não. Acredito que vai ter remuneração, né? Porque está sendo contratado através de uma outra pessoa”, escreve Barbosa.

“Ele (Caçadini) falou que nas futuras missões que a gente fechar, ele vai ter um valor a parte pra mim, desse trabalho que eu realizo. Mas nessas agora que teve (sic), a gente não fechou nenhum valor.″

‘REC feito. Tocaia em andamento’, escreveu tenente em mensagem. Foto: Reprodução/inquérito policial

Os peritos da Polícia Civil também destacaram no relatório conversas entre Barbosa e Louzada sobre o desempenho de Antônio Gomes. “Frio e calculista. Excelente aquisição ao pelotão. Só pelo último serviço já tem minhas recomendações”, escreve Louzada. “Ele é top”, concorda Barbosa.

Os diálogos analisados ocorreram entre setembro e dezembro de 2023.

Investigação teve início a partir de assassinato de advogado. Foto: Reprodução/inquérito policial

Autoridades

O grupo se autodenominava Comando 4 (Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos).

Uma lista com nomes de parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) foi encontrada com os investigados. A Polícia Federal entrou no caso e procura agora descobrir se houve de fato alguma articulação de atentado contra autoridades.

O grupo tinha também uma tabela de preços a cobrar por execução. Os valores chegavam a R$ 250 mil – no caso de senadores, R$ 150 mil; deputados, R$ 100 mil. Os valores constam de anotações encontradas com investigados.

COM A PALAVRA, AS DEFESAS

A reportagem pediu manifestação das defesas da defesa de Caçadini e busca contato com os demais. O espaço está aberto para manifestação (rayssa.motta@estadao.com; fausto.macedo@estadao.com).

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