Os juros futuros de longo prazo encerraram o pregão desta terça-feira (3) em queda, beneficiando-se de uma diminuição do prêmio de risco precificado na estrutura a termo da curva à medida que os investidores aguardam pelo anúncio de medidas fiscais estruturantes que substituiriam o ganho de receita por meio do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Sinalizações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foram bem-recebidas por operadores ao longo do dia.
Já na ponta curta, as taxas devolveram parte do alívio da véspera, à medida que precificaram um cenário de taxa Selic mais restritiva, após os comentários do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, na noite de ontem.
Com isso, ao fim do pregão, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento para janeiro de 2026 foi de 14,79%, do ajuste anterior, para 14,80%; a do DI de janeiro de 2027 subiu de 14,165% a 14,175%; a do DI de janeiro de 2029 cedeu de 13,685% para 13,62% e a do DI de janeiro de 2031 teve queda de 13,835% para 13,75%.
O principal guia para os mercados domésticos nesta sessão foi a expectativa pelo anúncio das medidas fiscais e a alternativa ao aumento do IOF. Logo pela manhã, Haddad citou que o governo e o Congresso costuram um pacote “robusto” para ajustar as contas públicas.
O anúncio, porém, ficará para a semana que vem, após uma reunião entre lideranças no domingo (8). Mesmo assim, o mercado encontrou espaço para reduzir o prêmio de risco, em especial depois do presidente Lula não descartar a possibilidade de desvincular os pisos de saúde e educação, estabelecendo a correção dos orçamentos pela inflação, conforme vigorava até 2022.
Em relatório mensal de gestão, a Ibiuna Investimentos avalia que o quadro fiscal brasileiro tem apresentado “deterioração contínua” após a “caótica tentativa” de elevar a arrecadação por meio do aumento do IOF.
“A reação da sociedade deixou clara a baixa viabilidade de novas elevações de impostos de forma que, sem medidas que desacelerem o crescimento do gasto obrigatório, não vemos alteração na perspectiva de contínuo crescimento da dívida pública”, diz a carta mensal da gestora comandada pelos ex-diretores do Banco Central Mario Torós e Rodrigo Azevedo.
Apesar da perspectiva fiscal negativa para o Brasil, a Ibiuna revela manter posições táticas aplicadas (que apostam na queda das taxas) em juros nominais e reais, além de operações de valor relativo nas curvas de juros reais e de inflação implícita (medida obtida pela diferença entre o juro nominal dos contratos de DI e o juro real das NTN-B).
Na seara da política monetária, comentários de Gabriel Galípolo causaram alguma pressão sobre a parte curta da curva de juros futuros, hoje, que não acompanhou a distensão observada nas taxas longas. Durante evento promovido pelo Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP), o presidente do BC disse que a autarquia ainda discute o ciclo de aperto da política monetária, afastando a perspectiva por um início de ciclo de cortes da taxa Selic tão cedo.
As falas de Galípolo, inclusive, afetaram a precificação dos investidores para a próxima decisão de juros do Copom no dia 18 deste mês. Conforme mostram as opções digitais de Copom, o mercado aponta 56% de chances de manutenção da taxa básica em 14,75%, 9 pontos percentuais a menos que na sessão anterior. Já a probabilidade de uma alta de 0,25 ponto, a 15%, subiu de 34% para 40%.
“Como os sinais de desaceleração da atividade seguem incipientes, a inflação corrente acima do teto da meta e expectativas de inflação desancoradas, o Banco Central voltou a ter uma comunicação com viés duro, sugerindo que, caso o ciclo de alta de fato seja interrompido em junho, o espaço para cortes de juros seguirá exíguo à frente”, pontua a carta mensal da Ibiuna Investimentos.