A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou sobre o aumento da alíquota do Imposto de Operações Financeiras (IOF) em uma reunião de avaliação do Orçamento. Mas, segunda ela, ele “não abriu com detalhes o que ia fazer”. “Como não estava aberta e Haddad é sempre muito cioso, ok, todo mundo aceitou”, disse.
O tema virou um novo foco de crise no governo. Gerou atrito com o mercado e escalou a tensão entre o Ministério da Fazenda e a Casa Civil, capitaneada por Rui Costa. Circulam diferentes versões de como a medida foi tratada no Palácio do Planalto. Em entrevista ao jornal “O Globo”, Haddad disse que o aumento do IOF “foi debatido na mesa do presidente”.
Gleisi falou sobre o assunto na noite desta quarta-feira (28), em entrevista ao programa “Conversa com Bial“, da TV Globo. “Nós fizemos uma reunião com a junta [financeira] durante a semana e depois com o presidente [Lula]. O ministro Haddad explicou as medidas [para equilibrar as contas do governo] e falou do IOF. Ele não abriu com detalhes o que ia fazer. Mas disse, olha, a mudança é pequena”, ela declarou.
O apresentador Pedro Bial também questionou Gleisi sobre a reunião que ocorreu entre os principais ministros do Palácio do Planalto, sem a presença de Haddad, instantes depois de a equipe econômica ter anunciado as mudanças no IOF como parte de um pacote de medidas para tentar controlar o déficit nas contas públicas.
Segundo Gleisi, não houve convocação para uma reunião emergencial. Ela disse, no programa, que já tinha um encontro agendado com Rui Costa e Sidônio Palmeira, ministro da Secretaria de Comunicação Social, para tratar de inteligência artificial. “Quando eu cheguei, esse negócio [IOF] já estava [repercutindo]. O pessoal da assessoria dizendo estava dando problema, o mercado, gente ligando, imprensa ligando. Nós sentamos lá e conversamos.”
“Não teve reunião para isso. A gente estava lá e aproveitou. Sempre conversando com Haddad, com a equipe da Fazenda. Eles também avaliaram [a decisão de recuar]”, acrescentou, negando que o ministro tenha sido excluído.
A avaliação, segundo Gleisi, é de que houve um erro, com “impacto muito grande”, e que seria pior insistir na medida do que recuar. “Quando erra, paciência, recua, não tem problema”, disse no programa.
O anúncio do recuo de parte das mudanças do IOF foi feito pelo Ministério da Fazenda via redes sociais ainda na noite do dia 22 de maio, horas depois da coletiva de imprensa em que a equipe econômica comunicou o aumento nas alíquotas. No dia seguinte, na primeira hora, Haddad convocou uma nova coletiva de imprensa para dar explicações.
Esse tema também ganhou tração no Congresso. Partidos importantes do Centrão na Câmara dos Deputados saíram em defesa da votação de projetos de decreto legislativo (PDLs) para derrubar a medida. O martelo deve ser batido nesta quinta-feira (29) durante reunião do colégio de líderes.
Eventual derrubada do reajuste do IOF em sua integralidade — o governo cancelou apenas a cobrança de 3,5% sobre o envio de recursos de fundos para investimentos internacionais — exigirá da gestão petista uma ampliação significativa do contingenciamento de despesas.
Segundo apuração do Valor, na avaliação do governo, no entanto, é pouco provável que os oposicionistas consigam os votos necessários porque isso afetaria diretamente os recursos destinados às emendas parlamentares, mecanismo que beneficia deputados e senadores.
‘Vamos fazer uma grande disputa no Congresso’
No “Conversa com Bial”, Gleisi também falou sobre o “jogo de cintura” para lidar com o Congresso. “Eu sempre digo o seguinte, tem brigas que não vale a pena a gente entrar, que a gente vai perder. Elas são grandes demais. Aí é melhor às vezes você recuar ou você tentar uma mediação. Tem outras que você pode avançar”. Como “briga que precisa avançar”, ela citou a reforma do Imposto de Renda, que prevê isenção para quem ganha até R$ 5 mil.
“Nós vamos fazer uma grande disputa no Congresso”, disse. “Eu acho que do ponto de vista da isenção, ok. Mas tem muita gente lá que não quer fazer a tributação em cima ou quer começar num nível muito alto. E aí você não tem dinheiro para compensar. Essa é uma matéria que a gente vai ter que disputar mais do que mediar.”
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Segundo Gleisi, se tiver que fazer “algum acordo lá no final”, esse acordo terá de ser “muito mais benéfico para o Estado e para as pessoas com quem a gente quer beneficiar”. “Aí tem que mobilizar a opinião pública”, ela afirmou.
Também no programa, a ministra disse não ver outra pessoa na esquerda, se não Lula, para disputar a eleição presidencial de 2026. “Tem gente [outras pessoas que poderiam concorrer], mas eu estou dizendo que tem a pegada popular, que tenha condições de fazer o embate e que tenha condições de ganhar”, explicou.
Questionada sobre quem seriam essas outras pessoas, Gleisi citou Haddad e o ministro da Educação, Camilo Santana. E disse: “Nós temos governadores, gente que eu digo assim, tem experiência de gestão, conhece política, tem capacidade. Claro, precisa se tornar conhecido para fazer a disputa. Mas tem capacidade. São quadros políticos relevantes, mas não são lideranças políticas ainda. E essa é uma eleição que a gente precisa de liderança política.”