Como diz Muniz Sodré, racismo é “intersubjetivo”. “Por isso ele é muito difícil de combater. Você não o pega.” Talvez por isso ele nos provoca a repensar sobre nós mesmos o tempo todo. Está tão enraizado em nós que naturalizamos situações, ideias e comportamentos.
Racismo é uma ideologia. Isso nos isenta? Não necessariamente. Afinal, mesmo não o compreendendo, a maioria de nós sabe que racismo existe e que ele é um problema. Quem não se lembra das pesquisas onde a maioria dos brasileiros considera o país racista, mas não se considera racista?
É como Grada Kilomba nos provoca, “a conscientização é um processo, não é uma exigência. É um caminho de muitas perguntas, e não um caminho moral, mas de responsabilidade política. É o reconhecimento de algo: o que é que eu faço com o que sei, agora que sei?”
Além disso, enquanto fenômeno, o racismo também muda, se adapta. Citando o filósofo Kabengele Munanga, “ele tem um percurso e várias histórias, que devem ser interpretadas de acordo com épocas, modelos culturais e estruturas de poder das sociedades que o praticam”.
Mas tem coisas nele que são imutáveis: a essência da relação de poder. A ideia de que uma raça é superior a outra estabelecendo privilégios a grupos sociais. No caso brasileiro: uma ideologia branca em detrimento aos demais.
Voltemos então a Cris Monteiro. Ao racializar a questão, se colocando na condição de uma mulher branca, a vereadora expôs a sua ideia de poder. Eu, uma mulher branca, incomodo porque sou branca. Me parece óbvio dizer que não há problema algum em ela afirmar sua identidade racial.