A Corregedoria da Polícia Militar vai analisar as imagens registradas pelas câmeras corporais dos agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) que participaram da incursão no Morro do Santo Amaro, no Catete, Zona Sul do Rio, na madrugada do último sábado (7). A ação ocorreu durante uma festa junina organizada por moradores da comunidade e terminou com a morte do jovem Herus Guimarães Mendes, de 23 anos, além de pelo menos cinco pessoas feridas. Ele deixa um filho de anos. O caso foi registrado na 9ª DP, no Catete.
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De acordo com a Secretaria de Estado de Polícia Militar, a operação foi realizada para verificar informações sobre a presença de criminosos fortemente armados que estariam se preparando para um possível confronto com facções rivais. A corporação informou ainda que, em um dos pontos da comunidade, os policiais teriam sido atacados por criminosos e, em resposta, houve confronto armado. No entando, a corporação nega que os agentes tenham reagido ao ataque criminoso. Após a estabilização da área, equipes do Bope socorreram um homem ferido ao Hospital Souza Aguiar, no Centro. Herus Guimarães foi levado por moradores ao Hospital Glória D’Or, mas não resistiu.
Durante a ação, Herus foi atingido no abdômen. Segundo o pai da vítima, Fernando Guimarães, o jovem tinha acabado de sair para comprar um lanche quando foi baleado. A família participava da festa na hora da operação, por sorte o filho de 2 anos da vítima nã estava no local. Eles ainda tentaram liga sem sucesso para Herus e quando o clima ficou menos tenso, Fernando diz que viu os amigos do filho carregando ele para dentro de um carro, em busca de atendimento médico.
Festa junina no Morro Santo Amaro é interrompida a balas
— A gente estava na festa, cheia de crianças. Eles entraram dando tiro, sem motivo algum. Graças a Deus o filho dele não estava presente. O tiro atingiu o baço. Ele chegou a ser reanimado no hospital, mas não resistiu. Era trabalhador, sem ficha criminal, pagava pensão. Infelizmente, não vai voltar. Hoje ele é mais um. Mas as autoridades precisam explicar o que estavam fazendo no morro naquele horário. Quem autorizou essa operação? — lamentou o pai.
A entrada dos policiais durante a festa provocou pânico entre os moradores. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram correria, gritos e pessoas se jogando no chão para se proteger. Crianças, idosos e visitantes da comunidade ficaram no meio do tiroteio. Há relatos de pessoas pisoteadas na tentativa de escapar dos disparos. Momento antes do confronto, grupos se apresentavam em rodas de dança.
— Estamos aqui de forma pacífica para cobrar justiça. Isso nunca aconteceu aqui, de a polícia entrar atirando sem motivo. Não nos procuraram para falar nada — disse um morador que participou de uma manifestação pacífica realizada na manhã de sábado, na Rua Pedro Américo, cobrando explicações e justiça pelo caso.
Em nota, a PM informou que os agentes usavam câmeras de uso corporal e que o material já está sendo analisado pela Corregedoria da corporação. O comando do Bope também instaurou um procedimento apuratório interno para investigar as circunstâncias da operação.
Moradores do Morro do Santo Amaro também realizaram, na manhã deste sábado, uma manifestação na Rua Pedro Américo, no Catete, em protesto pela morte do jovem Herus. Com cartazes e gritos por justiça, dezenas de pessoas ocuparam a via pedindo esclarecimentos sobre a operação policial que resultou na morte do rapaz, durante uma festa junina organizada por moradores.
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Além de manifestantes a pé, dezenas de motos desceram do morro em um buzinaço que chamou atenção de quem passava pela região. A Polícia Militar acompanha a movimentação. Segundo relatos de moradores, o clima na comunidade é de tristeza, medo e tensão.
—A gente só quer uma resposta, porque ninguém veio aqui explicar nada. Está todo mundo abalado, foi uma tragédia— disse um dos manifestantes, que preferiu não se identificar.