GRUPO cresceu 27% em todo o Estado
O número de evangélicos cresceu 27% no Ceará entre 2010 e 2022, enquanto a quantidade de Católicos caiu cerca de 20% dentro do mesmo período. No entanto, seguidores do catolicismo ainda são a maioria no Estado, que é a segunda unidade federativa do Brasil com o maior percentual de adeptos dessa religião.
Dados fazem parte do Censo Demográfico 2022, publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ontem, 6. Pesquisa foi feita em uma amostra da população a partir de entrevista feita presencialmente, de chamada telefônica e preenchimento de formulário via internet.
Balanço mostra que em 12 anos o número de evangélicos no Ceará saltou de 1.236.435 para 1.579.300, totalizando 342.865 novos adeptos. Atualmente 20% da população cearense acima de 10 anos de idade segue a religião, tornando o Estado o terceiro com menos evangélicos do País, atrás de Piauí e Sergipe.
Já em relação ao catolicismo, o levantamento do instituto mostra que 70,4% da população cearense acima dos 10 anos de idade se denomina como sendo católica apostólica romana. Estado é o segundo mais católico do Brasil, ficando atrás apenas do Piauí, que tem 77,4% dos habitantes autodeclarados.
O percentual de católicos do Ceará ficou acima do índice registrado no Nordeste (63,9%). A região é a mais católica de todo o País, sendo seguida pelo Sul, onde 62,4% dos moradores se dizem fiéis da religião.
No comparativo dos 12 anos, no entanto, há uma redução de quase 20% de católicos no Ceará. Isso porque em 2010 a unidade federativa tinha 6.663.512 devotos do catolicismo, número que em 2022 foi de 5.357.610.
Além dessas religiões, o Censo apontou que o número de seguidores do candomblé e da umbanda mais do que triplicaram em 12 anos no Estado, correspondendo a 0,11% da população em 2010 e a 0,37% em 2022.
No cenário nacional, balanço mostrou que, dentro do período analisado, o total de evangélicos saltou de 21,7% para 26,9% entre a população do Brasil. Índice é o maior já registrado desde o início do Censo Demográfico, em 1872. O principal grupo praticante da religião no País são os jovens.
De acordo com o IBGE, 31,6% das crianças entre 10 e 14 anos se autodeclaram evangélicas durante o último Censo, seguidos pelas faixas etárias de 15 a 19 anos, com 28,9%, e 30 a 39, com 28,1%. Entre os mais velhos, por exemplo, os evangélicos representam 19% da população 80+.
Para o presidente da Associação das Igrejas Bíblicas Independentes do Ceará (Aibic), João Alves, essa popularidade entre os jovens e a queda nas idades seguintes pode ser vista como resultado da influência dos pais, que conduzem os filhos às igrejas desde cedo.
“Normalmente, nessa idade vem por consequência dos pais. Não é um público que por si só geralmente procura as igrejas, vêm mais em companhia dos pais por serem muito crianças. Mas fico feliz que esteja havendo esse movimento entre os adolescentes, porque eles têm um chamado, um apelo muito grande para fora [da igreja]”, explica.
Crato é a cidade com mais católicos e Jijoca de Jericoacoara a que mais ganhou evangélicos
Entre os destaques do Ceará no Censo 2022 está a cidade do Crato, distante 538 quilômetros (km) de Fortaleza. Município tem 91812 católicos, correspondente a 81% da população local, se tornando dessa maneira a cidade acima de 100 mil habitantes com a maior proporção de católicos do Brasil.
O número pode ser explicado pela forte tradição cristã da cidade, que é conhecida por procissões, monumentos de fé e eventos religiosos. A religiosidade do município deverá ser ainda mais reforçada nos próximos meses, com a inauguração de uma nova estátua de Nossa Senhora de Fátima.
Já o município de Jijoca de Jericoacoara registrou o maior crescimento proporcional da população evangélica. De acordo com o IBGE, o número de devotos da religião na cidade passou de 1.522, em 2010, para 4.268 em 2022 — um aumento de 180,42% (2.746 evangélicos a mais).
João Alves, presidente da Aibic, diz ter se surpreendido com o índice do município. No entanto, ele explica que a região Norte do Estado foi um primeiros lugares do Brasil onde os missionários norte-americanos se estabeleceram, mantendo uma igreja forte. “Mas não só lá, Preá e toda aquela região têm sido bastante receptiva ao evangelho e muitas igrejas têm sido estabelecidas ali na região ao longo dos anos”, diz.
Jijoca é seguida por Itaitinga, que saltou de 6.377 para 17.433 evangélicos, aumento de 173,37%, e Aurora, que foi de 955 para 2.200, disparo de 130,37%. Em termos absolutos, Fortaleza lidera com a maior população evangélica do Estado: eram 523.456 em 2010, número que chegou a 561.214 em 2022 — um acréscimo de 37.758 pessoas (7,21%).
Religião evangélica tem sido buscada como alternativa, apontam especialistas
De acordo com o teólogo Victor Breno, o aumento do número de evangélicos pode ter influência não somente da participação dos pais nas escolhas religiosas dos filhos, mas também a partir da necessidade que os jovens sentem de encontrar um culto que se adapte melhor às suas necessidades.
“Esses novos jovens, adolescentes, tendem a escolher uma religião que seja mais aceita às demandas e às necessidades da sua geração. E aí as igrejas evangélicas têm tido uma capacidade maior de adaptação, contextualização e de se modernizar”, explica o profissional.
No entanto, Bruno acredita que a religião católica deve continuar forte mesmo com a ascensão da evangélica. “Em um estado como o nosso, o catolicismo ainda tem influências muito profundas no modo como a nossa sociedade se organiza, na questão turística, política, comercial (…) Apesar desse declínio em comparação com outros estados, o catolicismo ainda vai ter bastante força e proeminência”, diz.
De acordo com o padre Bruno Moreira, professor de Teologia Pastoral da Faculdade Católica de Fortaleza (FCF), o aumento do número de evangélicos pode não ter influência de uma “migração católica”, mas sim de fatores que têm feito as pessoas darem uma abertura maior para “a dimensão religiosa e espiritual”.
“Muitas pessoas, diante de tantas situações da vida, de doenças, de tanta violência, têm buscado, sim, mais a religião (…) Então, esse número também de evangélicos aumentando não significa dizer que são evangélicos vindos do catolicismo”, pontua o religioso.
Moreira, no entanto, frisa que o catolicismo não está “competindo” por fiéis. “A nossa preocupação não é se nós temos uma grande multidão, mas é que é aqueles que se dizem católicos de fato vivam e pratiquem a sua fé (…) Eu acho que a igreja evangélica tem os seus meios de propagação do evangelho, a sua forma também de conversar com as pessoas, os apelos que são próprios de cada religião e o catolicismo não faz uma competição. Nós não competimos com os cristãos evangélicos”, diz.
Com a colaboração de Gabriela Almeida e Wanderson Trindade