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Bolsonaro pode manter a influência após o julgamento no STF?

Ao adotar falas firmes em seu interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF) e rebater a narrativa de que teria arquitetado um golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ganhou força com o eleitorado de direita em um cenário político em que ele é pressionado para apontar um sucessor. Segundo analistas ouvidos pela reportagem, mesmo sentado no banco dos réus, Bolsonaro tem conseguido converter as acusações da Procuradoria-Geral da República (PGR) em uma percepção de injustiça e perseguição política e com isso ele se mantém como figura central no campo da direita.

Além do avanço do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro enfrenta a inelegibilidade até 2030, imposta pelo Tibunal Superior Eleitoral (TSE) em 2023, com poucas chances de ser revertida.

Embora as consequências judiciais ainda não estejam definidas, o efeito político já está em curso: neste momento Bolsonaro está fora no páreo para disputar a Presidência da República em 2026, e, nesse cenário, o campo conservador enfrenta o desafio de reorganizar suas forças e definir como será representado nas urnas. Assim, a direita brasileira enfrenta um impasse: manter-se coesa em torno de seu líder, buscar um herdeiro político ou se reestruturar em torno de nomes chamados de “moderados” e que se aproximam da centro-direita.

O protagonismo do ex-presidente deve ser mantido mesmo que seu nome não esteja nas urnas, seja por meio de familiares, como a esposa e ex-primeira dama Michelle Bolsonaro ou de um dos filhos, especialmente o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ou ainda de nomes que buscam se consolidar, como os dos governadores do Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ou do Paraná, Carlos Massa Ratinho Jr. (PSD).

Independente disso, aliados reforçam o protagonismo e o fortalecimento do ex-presidente. Para eles, o processo judicial é fruto de uma perseguição política. Nas redes sociais, o deputado Mário Frias (PL-RJ) comentou que ele [Bolsonaro] “vai voltar mais forte em 2026″, ao compartilhar um trecho da fala do ex-mandatário durante o interrogatório na ação penal em que é acusado de tentativa de golpe de Estado.

A deputada Júlia Zanatta (PL-SC) afirmou que as narrativas criadas diante do processo contra Bolsonaro estão caindo por terra. “Estamos há dois anos convivendo com esse circo de horrores e insistem em continuar. Em tudo que eu vi até agora, não há nada que comprometa o presidente Bolsonaro. O lema jogar nas “quatro linhas” da Constituição foi até o fim. A narrativa mentirosa do “Gopi” mostra-se ser o verdadeiro golpe”, escreveu a deputada em sua conta no X. 

O cientista político e professor do Ibmec-BH Adriano Cerqueira afirma que Bolsonaro hoje está mais popular e forte politicamente do que quando acabaram as eleições de 2022.

“Quando começou todo esse processo em 2023, havia uma expectativa por parte do governo e até mesmo de alguns ministros do STF de que Bolsonaro chegaria em 2025 desgastado, com a imagem abalada, com uma série de denúncias. Só que Bolsonaro hoje derrota Lula, e se mantém como um nome forte e que transfere votos”, disse Cerqueira.

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Bolsonaro refuta minuta de golpe e questiona urnas, mas não confronta Moraes 

Em seu interrogatório, realizado na terça-feira (10), Bolsonaro refutou a “minuta de golpe” e questionou as urnas, mas sem confrontar Moraes. Para ele, golpe de Estado “é uma coisa abominável” que “nem sequer foi cogitada” durante o seu governo.

Além disso, o ex-presidente reforçou que sempre defendeu o voto impresso ao longo de sua trajetória política, bem como sempre fez questionamentos sobre a segurança das urnas eletrônicas. “A intenção minha não é desacreditar, sempre foi alerta, para aprimorar”, disse Bolsonaro ao responder os questionamentos do ministro Alexandre de Moraes.

O senador Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro de Bolsonaro, destacou que as críticas do ex-presidente ao sistema eleitoral é que o levaram ao julgamento. “Bolsonaro foi declarado inelegível não por corrupção, mas por criticar o sistema eleitoral e se reunir com embaixadores. No Brasil de hoje, debater virou crime e o alvo é sempre quem ousa ter apoio popular fora do sistema”, disse o senador em suas redes sociais.

Para o estrategista político e eleitoral Gilmar Arruda, Bolsonaro “baixou o tom” para falar do Judiciário, terceirizando críticas mais contundentes a aliados. “Ele não tem mais a prerrogativa de presidente, portanto, tem que proferir um discurso num tom mais institucional, principalmente estando cara a cara com o Alexandre de Moraes. Além de poder ser juridicamente penalizado, soaria como alguém desequilibrado”, disse Arruda. 

Bolsonaro está fora da urna, mas dentro do jogo 

Mesmo se for condenado, Bolsonaro não deve sair de cena. Seja por meio de familiares ou de aliados, o ex-presidente manterá influência decisiva no cenário político. O futuro da direita dependerá da capacidade de articulação, de evitar divisões e de escolher um nome competitivo para 2026. 

A influência de Bolsonaro é favorecida ainda pela situação do atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Diante de crises, especialmente com os sucessivos aumentos de impostos sem cortes de gastos e com escândalos como o do INSS, Lula enfrenta desgastes e aprovação em queda. “Lula tem menos intenção de votos hoje do que ele teve em 2022. Além disso, uma parte significativa daquele centro que o apoiou em 2022, o abandonou, saiu da base aliada. Inclusive, a base eleitoral do Lula também foi perdida”, aponta o cientista político Adriano Cerqueira. 

Cerqueira pondera ainda que pode haver um uma estratégia por parte dos partidos de centro direita e direita de virem fortes já no primeiro turno com uma candidatura. “Aí eu acho que a variação é para ganhar já no primeiro turno”, avalia.

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Credibilidade do Judiciário em xeque 

Além das articulações políticas, o julgamento de Jair Bolsonaro também expõe uma crise de credibilidade nas instituições brasileiras. Para especialistas, o processo não atinge apenas o ex-presidente, mas coloca em xeque a confiança da população no próprio Judiciário. Enquanto parte dos eleitores vê as decisões como previsíveis dentro de um sistema desacreditado, cresce a percepção de que a Justiça estaria agindo de forma politizada, alimentando discursos de perseguição e reforçando a polarização no país. 

Na avaliação do cientista político Adriano Cerqueira, a ideia de que Bolsonaro foi golpista “não pegou” para boa parte da população, ressoando principalmente entre militantes de esquerda. Para ele, os moderados e a direita não compartilham dessa visão, considerando como “fracas” as evidências apresentadas no processo.

O cientista político Luiz Jardim aponta que a população entende que o julgamento já “condenou” a Justiça em si, tendo em vista as pesquisas sobre a confiança no STF. “A população que condena a Justiça é a mesma que dá pouca importância sobre quem é condenado, como se interpretasse que isso é mais do mesmo do que ocorre no Brasil”, disse Jardim.

Ele aponta ainda que a direita sairá fortalecida do julgamento contra Bolsonaro. “Será entendido que é mais uma manobra para impedir as ideias conservadoras de dirigir o Brasil”, disse o cientista político.

O advogado criminalista Anderson Flexa chama a atenção para o desgaste institucional. Para Flexa, a politização do Judiciário ameaça a credibilidade das instituições e alimenta a narrativa de perseguição. O advogado defende que os julgamentos sigam critérios técnicos, sem ingerência política, para evitar que decisões judiciais sejam vistas como manobras eleitorais.

“O Brasil precisa de uma Justiça menos politizada, mais legalista e capaz de restaurar a confiança pública — algo urgente em um cenário marcado por polarização e dúvidas sobre a lisura dos processos”, afirma Flexa.

Bolsonaro deve usar estratégia voltada para o próprio campo 

Para os analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, impedido de disputar eleições até 2030, Bolsonaro já trabalharia com a expectativa de condenação e com a preparação de sua narrativa.

Além disso, já teria repassado parte da articulação política ao filho Eduardo Bolsonaro, que atua nos Estados Unidos. “Ele [Eduardo] está fora do alcance jurídico e se posiciona para liderar as articulações à direita”, explica o cientista político Adriano Cerqueira. 

Michelle Bolsonaro também aparece como alternativa. “Seu nome é forte junto à base e tem apelo popular, especialmente entre os setores mais conservadores e religiosos”, acrescenta Cerqueira. 

Para o doutor em Ciência Política Leandro Gabiati, Bolsonaro não vai tentar dialogar com o eleitorado de centro ou de esquerda. Para ele, toda a estratégia estará focada em manter seu público cativo, reforçando o discurso de perseguição e de injustiça, para preservar sua força como polo político mesmo após uma eventual condenação.

“Ele concentrará todos os seus atos, todo o simbolismo de uma condenação e todo discurso em apontar para o próprio campo. E justamente aponta para o próprio campo para manter vida política, para continuar sendo um polo político”, disse Gabiati. 

Para o estrategista Gilmar Arruda, se a direita se fragmentar, favorece o presidente Lula, no entanto, se conseguir se unir, mesmo sem Bolsonaro, permanece forte.

Efeito eleitoral da ausência de Bolsonaro em 2026 

A ausência do ex-presidente Bolsonaro entre os nomes elegíveis em 2026 pode gerar pulverização do voto da direita no primeiro turno. Para Gabiati não há uma unidade, mas sim várias direitas, projetos e candidatos.

Jardim, no entanto, reforça a importância de evitar o clássico “dividir para governar”. “A direita tende a não se unir, porque, em essência, não é coletivista. A esquerda sempre enfrenta o adversário como em tribo. Por isso, não há substituto ao Lula e não haverá outros que terão a fortaleza do individualismo para enfrentar a corrida eleitoral. Todas as cores da direita devem dar atenção [para não adotar] a “estratégia de César” [dividir para conquistar] e não se dividirem”, destaca Jardim.

Arruda avalia o cenário no mesmo sentido. Para ele, a competitividade da direita em 2026 depende de uma candidatura única, principalmente na ausência de Bolsonaro.

“Num cenário onde o governador Tarcísio de Freitas receba o apoio formal do Bolsonaro, a tendência é que haja uma unificação do campo da direita em torno desta candidatura, tanto no plano da articulação e arranjo político quanto no efeito eleitoral”, afirma

Além disso, Arruda destaca que o julgamento terá efeito de unificar a base mais “aguerrida” do ex-presidente. Ele pontua, no entanto, que a depender do resultado, “setores mais centralizados da política se manterão a uma certa distância, evitando assim que uma possível condenação do ex-presidente e uma [eventual] queda da sua popularidade possa respingar neles”.

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