O ex-presidente Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira à Polícia Federal (PF) não ter mantido contato com parlamentares ou integrantes do governo Donald Trump sobre possíveis sanções a autoridades brasileiras.
Bolsonaro prestou depoimento durante a tarde no inquérito que investiga a suposta ação do seu filho, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), para tentar obstruir o processo da tentativa de golpe de Estado, no qual o ex-presidente é réu.
Perguntado se as as ações de Eduardo nos Estados Unidos tinham a finalidade de beneficiar a sua situação jurídica no processo da tentativa de golpe ou influenciar em investigações em curso, Bolsionaro também negou.
Em seu depoimento, Bolsonaro reconheceu, porém, que teve uma reunião com o Conselheiro Sênior do Departamento de Estado dos Estados Unidos para o Hemisfério Ocidental, Ricardo Pita, em 6 de maio. Questionado sobre o teor, o ex-presidente não detalhou a conversa e afirmou que essa foi uma conversa de “teor reservado”.
Mais cedo, o ex-presidente afirmou, na saída da PF, ter transferido “bastante dinheiro legal” para Eduardo, que está morando nos Estados Unidos. O mesmo assunto foi abordado no depoimento,
— Eu botei 2 milhões na conta dele, ok? Lá fora tudo é mais caro. Eu tenho dois netos, um de quatro ou outro de um ano. Ele está lá fora, eu não quero que ele passe por dificuldade. É muito, é bastante dinheiro. Lá nos Estados Unidos pode não ser nem tanto, né? 350 mil dólares, mas eu quero o bem-estar dele e graças a Deus eu tive como depositar dinheiro na conta dele — afirmou Bolsonaro ao sair da sede da PF, em Brasília.
A oitiva durou cerca de duas horas. Segundo o ex-presidente, o montante veio dos R$ 17 milhões que ele recebeu de apoiadores via Pix, em 2023.
Na ocasião, os aliados de Bolsonaro fizeram uma campanha financeira para pagar as multas recebidas pelo ex-mandatário durante a pandemia de Covid-19.
O ex-presidente também aproveitou para defender o filho e dizer que ele não está fazendo “nenhum trabalho de lobby” nos Estados Unidos para tentar “sancionar quem quer que seja no Brasil”.
— Não é lobby, são fatos, que atentam contra os direitos humanos e à liberdade de expressão. O trabalho que ele faz lá é por democracia no Brasil — acrescentou Bolsonaro. Ao lado do ex-mandatário, o advogado Paulo Bueno frisou que as eventuais sanções por parte do governo Trump podem ser aplicadas por outros motivos que não têm relação com o processo sobre o golpe – como o bloqueio de contas na rede social X.
Perguntado sobre a situação de foragida de Carla Zambelli (PL-SP), Bolsonaro disse ainda que “não tem “nada a ver” com a parlamentar. Ela teve a prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após anunciar que havia deixado o Brasil em direção à Europa. Zambelli teve o nome incluído na difusão vermelha da Interpol nesta quinta-feira. O ex-presidente frisou que não fez “nenhum Pix” para a parlamentar.
Em relação ao inquérito de Eduardo Bolsonaro, a Polícia Federal apura os supostos crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação de organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Na investigação, Bolsonaro foi citado como o beneficiário direto das ações do filho e por ter declarado que seria “o responsável financeiro” pela estadia dele em solo americano. O ex-presidente confirmou essa situação aos investigadores.