A PF indiciou Carlos Bolsonaro, o deputado federal Alexandre Ramagem e o atual diretor da Abin, Luiz Fernando Correa, no inquérito da Abin Paralela. O ex-presidente Bolsonaro é citado, mas a PF pediu à PGR para avaliar se é pertinente ele responder pelo mesmo crime ao qual já responde no inquérito do golpe. A investigação apura o uso da estrutura da agência para espionar autoridades e jornalistas. O esquema foi usado na gestão Bolsonaro, mas a atual cúpula da Abin também foi indiciada por obstruir as investigações e manter operações ilegais. (Gabriela Echenique e Igor Cardim)
A Polícia Federal concluiu o inquérito da chamada “Abin Paralela” e indiciou mais de 30 pessoas, entre elas, o vereador Carlos Bolsonaro e o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem. A atual cúpula da Abin também foi indiciada, entre eles, o diretor geral, Luiz Fernando Correa. A acusação é que eles teriam usado a estrutura do órgão para espionar e monitorar autoridades, inclusive invadindo celulares e computadores.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, também é responsabilizado no documento. De acordo com o jornal O Globo, Bolsonaro é citado pelo crime de organização criminosa. Mas o ex-presidente já havia sido denunciado por esse mesmo crime no inquérito da trama golpista, justamente pelo suposto uso da estrutura da agência para descredibilizar ministros do Supremo, deputados, senadores e até jornalistas. Segundo o jornal, a PF pediu à PGR para avaliar se é pertinente ele responder pelo mesmo crime em dois inquéritos diferentes, mas que têm ligação entre si e cujas provas foram compartilhadas.
Segundo a PF, a Abin Paralela usou o software israelense FirstMile para produzir dossiês ilegalmente e atuou para disseminar notícias falsas contra integrantes do legislativo e do judiciário. A investigação tem relação direta com o inquérito que investiga a trama golpista e que também tem Jair Bolsonaro e Alexandre Ramagem como investigados. Neste caso, a PGR apontou o uso da estrutura da Abin pelo governo Bolsonaro para atacar o sistema eleitoral. As provas das duas investigações foram compartilhadas.
No ano passado, durante audiência pública no STF para tratar sobre o tema, o diretor da inteligência da Polícia Federal, Rodrigo Morais Fernandes, explicou como o software operava.
A PF também indiciou a atual cúpula da Abin. A principal suspeita é que o esquema de espionagem ilegal teria se mantido mesmo após Jair Bolsonaro deixar a presidência. O atual diretor, Luiz Fernando Correa, chegou a depor à PF em abril sob a suspeita de obstuir as investigações. Um funcionário da agência contou à PF que a atual gestão teria mantido ainda operações de invasão hacker a sistemas do governo do Paraguai e de autoridades envolvidas nas negociações da usina de Itaipu.
Nas redes sociais, os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro negaram as acusações disseram que o indiciamento tem motivação política. Carlos Bolsonaro usou o mesmo argumento ao sugerir relação com as eleições de 2026. Jair Bolsonaro não se posicionou. Mas em outros momentos, ele negou a existência de uma estrutura paralela na agência e eventual participação no esquema.