O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou nesta segunda-feira que o parlamento seguirá a determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), feita no último sábado, para romper o mandato da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que foi condenada a 10 anos de prisão. Com com trânsito em julgado, não há mais possibilidade de recursos.
No despacho de sábado passado, Moraes determinou ainda que o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), em articulação com o Ministério das Relações Exteriores (MRE), solicite à Itália a extradição da deputada federal, destino para o qual Zambelli teria seguido após sua passagem pelos Estados Unidos.
Em resposta, Zambelli tem afirmado que saiu do país por ser alvo de perseguição política, chegando a classificar a determinação de sua prisão como “ilegal, inconstitucional e autoritária”.
O que Zambelli fez para ser condenada pelo STF?
Na denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), julgada pelo STF, consta que a deputada federal, em conluio com o hacker Walter Delgatti Neto, invadiu os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inseriu e alterou dados de documentos oficiais, como mandados de prisão, alvarás de soltura, quebras de sigilo bancário e certidões.
Uma das ações feitas no CNJ foi a inserção de uma expedição de Moraes na qual era determinado um mandado de prisão contra ele mesmo. Segundo a denúncia apresentada, o objetivo dessa atuação seria prejudicar o Judiciário e a credibilidade das instituições, visando ganhos políticos.
Zambelli iniciou sua vida política em 2011, quando criou o movimento Nas Ruas, que tinha um ideal conservador e defendia pautas contra a corrupção e a impunidade de políticos.
Em 2013, o grupo passou a ser mais conhecido devido à sua participação em grandes manifestações com diferentes pautas que ocorreram naquela época. Nesse período, o Nas Ruas se opunha a Dilma Rousseff. O grupo também teve destaque nas manifestações de 2015, que ajudaram posteriormente no impeachment da então presidente em 2016.
Dois anos depois, Zambelli foi eleita deputada federal pelo PSL-SP nas eleições de 2018. Nesse primeiro mandato, a parlamentar foi uma das principais vozes da base governista do então presidente Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados.
Uma das pautas de Bolsonaro que a deputada defendeu foi o ataque ao sistema eleitoral brasileiro, o que resultou na cassação de seu mandato parlamentar e na perda dos direitos políticos por oito anos, em decisão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP).
Na sentença, o TRE-SP entendeu que Zambelli espalhou desinformações sobre o tema de forma consciente, caracterizando o uso ilegal dos meios de comunicação e prática de abuso de poder. A decisão ainda pode ser revertida no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Zambelli também protagonizou uma das cenas mais marcantes das eleições de 2022. Ela perseguiu um eleitor do presidente Lula, que a havia provocado e xingado, com uma arma em mãos. O caso aconteceu na véspera do segundo turno da eleição presidencial.
Essa atitude tornou a deputada federal ré, pois ela portava arma e munição em local próximo a uma zona eleitoral dentro do prazo de 48 horas antes da eleição — o que é ilegal. À época, Zambelli disse que a perseguição foi, na verdade, uma reação por ter sofrido agressão física do eleitor. Porém, há vídeos que mostram que a parlamentar, na verdade, tropeçou sozinha antes de apontar a arma, acompanhada de seus seguranças.
Em março de 2025, o Plenário do STF estava formando maioria na decisão de condenar Zambelli a 5 anos e 3 meses de prisão, além da perda do mandato, mas o julgamento foi paralisado por conta do pedido de vista do ministro Kassio Nunes Marques.
Em entrevista ao podcast Inteligência Ltda., Jair Bolsonaro afirmou que Zambelli “tirou o mandato [de presidente] da gente” em 2022 por conta desse ato.
* Estagiário sob supervisão de Diogo Max