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Nenhum dos cinco feridos em ação do Bope durante festa junina tem envolvimento com o tráfico, diz Polícia Civil

Herus Guimarães Mendes, de 23 anos, flamenguista, pai de um menino de 2 anos e office boy em uma imobiliária, se juntou à família e a outros moradores do Morro Santo Amaro, no Catete, para assistir a apresentações de quadrilhas juninas, uma das festas mais populares nesta época do ano. Já era madrugada de sábado, mas a rua estava cheia, muitos convidados tinham vindo de outros cantos do Rio. Até que uma operação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), a tropa de elite da PM, acabou com a diversão e a vida do jovem. Baleado no abdômen, Herus não resistiu. Outras cinco pessoas ficaram feridas e um continuava internado ontem à noite no Hospital Souza Aguiar. A Polícia Civil afirma que nenhum deles tem envolvimento com o tráfico de drogas.

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O resultado trágico levou o governador Cláudio Castro a afastar os comandantes do Bope, coronel Aristheu Lopes, e do Comando de Operações Especiais (COE), coronel André Luiz de Souza Batista, e outros 12 policiais que participaram da incursão.

— Vou ter que deixar meu filho aqui. Tiraram a vida dele. Ninguém vai dizer que meu filho era traficante. Não deixaram a gente socorrer ele. Ficaram rindo, debochando enquanto ele estava caído no chão. Meu filho foi arrastado, está todo arranhado. Não vou mais ouvir a voz dele, não vou mais receber uma mensagem. Ele não deveria estar aqui. Isso não é justo — disse, chorando, Mônica Guimarães, mãe de Herus, no enterro, ontem, no Cemitério São João Batista, em Botafogo.

Em nota, Castro afirmou que se solidariza com as famílias das vítimas. “Sei que palavras não vão trazer ninguém de volta e nem diminuir a dor de se perder um ente querido, mas fica aqui a minha tristeza e indignação”, diz o texto. Ele prometeu que as investigações serão conduzidas com “extremo rigor e agilidade”, tanto pela Polícia Civil quanto pela Corregedoria Interna da PM. E garantiu, em conversa com o Ministério Público, que todas as imagens captadas pelas câmeras corporais dos agentes envolvidos na incursão serão disponibilizadas nos inquéritos.

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As armas usadas pelos policiais foram apreendidas para análise, e a Polícia Civil fez perícia na comunidade ainda no sábado para saber de onde partiram os tiros que atingiram as vítimas. Os agentes usaram um scanner 3D que faz o levantamento de locais de crimes e consegue captar detalhes que podem passar despercebidos a olho nu.

Herus foi morto após tiroteio durante festa junina no Morro Santo Amaro, no Catete — Foto: Arquivo pessoal

O Ministério Público do Rio começou a fazer uma perícia independente para revelar o que aconteceu. “A instituição reafirma o compromisso de exercer o controle externo da atividade policial, a apuração dos fatos e a responsabilização de quem de direito”, ressaltou o procurador-geral de Justiça, Antonio José Campos Moreira. Em nota, o Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado do Rio afirmou que o episódio foi “triste e inaceitável”.

De acordo com a Secretaria de Polícia Militar, agentes foram ao Santo Amaro numa operação emergencial para verificar informações sobre um possível ataque de facções rivais. A favela é vizinha ao quartel do Bope e sempre foi conhecida por ser um lugar sem tráfico ostensivo. A corporação informou que os agentes foram recebidos à bala e que, num primeiro momento, não revidaram o ataque. No entanto, ao se aproximarem de outro ponto, aconteceu o confronto, que terminou com a morte de Herus. A vítima chegou a ser levada para o Hospital Glória D’Or, mas não sobreviveu.

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A repercussão do caso chegou rapidamente às redes sociais e às ruas. Parentes e colegas de Herus fizeram protestos no fim de semana, no Catete. Os atos também reuniram famílias de outras vítimas da violência policial. Ontem um homem fez dois disparos para o alto de dentro de um carro, ao passar em meio aos manifestantes.

Protesto contra a morte de Herus Guimarães no Morro do Santo Amaro, no Catete — Foto: Alexandre Cassiano
Protesto contra a morte de Herus Guimarães no Morro do Santo Amaro, no Catete — Foto: Alexandre Cassiano

Uma família destroçada e amigos extremamente tristes acompanharam o enterro de Herus. Moradores do Santo Amaro levaram flores brancas, cartazes de protesto e faixas pedindo justiça. Muitos fizeram discursos contra a violência nas favelas. Colegas do rapaz recordaram a trajetória dele, que havia terminado o ensino médio e trabalhava com carteira assinada.

— Herus cresceu com a gente. Estudamos juntos, fizemos o programa jovem aprendiz. Sempre correu atrás, era um pai presente, trabalhador. Uma mãe, uma esposa, um filho, todo mundo ficou. Mais um cidadão que se vai. Dói o que aconteceu. Dói muito. E só gente pobre e o favelado que pagam essa conta. A nossa festa existe há mais de 40 anos. Fica a pergunta: até quando isso vai acontecer? — questionou Isabele Lopes, amiga da vítima.

A mãe do rapaz também reagiu à nota divulgada pelo governador Cláudio Castro:

— Para mim, ele não está dizendo nada, absolutamente nada. Desde o momento em que ele assinou um decreto autorizando operação nas comunidades a hora que quiser, a hora que bem entender, a situação ficou pior. Então, diz para ele que aqui está o resultado da assinatura dele. Diz para ele que eu estou aqui.

Fernando Guimarães, pai de Herus, agradeceu as palavras de Castro, mas diz que é preciso haver uma resposta.

— Não queremos só uma nota de pesar. Queremos saber quem autorizou, por que estavam lá, quem atirou. Hoje é o meu filho, mas também teve outro menino baleado, lá de São Gonçalo. Ele tem 16 anos. Não se esqueçam dele também. Foram várias vítimas — disse, referindo-se a um dos feridos durante a festa junina.

‘Onde não tem tráfico?’

Num tom firme e emocionado, o subtenente do Corpo de Bombeiros Luciano dos Santos, primo de Herus, pediu punições.

— Mais uma vez, o choro de uma mãe; não é demagogia. Excelentíssimo senhor governador do Estado do Rio, o que aconteceu lá na comunidade onde eu sou nascido e criado foi o erro de uma tropa. Se fosse eu, como militar, seria punido — disse o parente. — Se lá tem tráfico, onde não tem tráfico no Rio? O meu primo tinha uma CLT, tinha um lugar onde ele ganhava o seu pão dignamente. Nós somos a voz de muitos outros favelados. Os policiais do Bope puderam abraçar seus filhos quando chegaram em casa, a minha prima não. Ela está enterrando seu filho.

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