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Retrato do Brasil no Censo 2022: evangélicos desaceleram, católicos estabilizam e novas espiritualidades florescem

Em 2025, o Brasil vive uma transformação religiosa que desafia previsões e expõe a rica complexidade de sua espiritualidade. Veículos de comunicação têm destacado os dados do Censo 2022 do IBGE, que mostram os evangélicos crescendo a um ritmo mais lento do que o esperado, enquanto os católicos demonstram uma resiliência inesperada.

Há séculos que filósofos, pensadores e teólogos, além de estudiosos da religião nas universidades, buscam entender a extensão que a religião tem para influenciar as sociedades. Todos eles em algum tempo concluíram que o Deus é um só e que a humanidade é uma só. Em meados do século XIX percebe-se que a religião também é uma só —, as denominações é que são diversas, assim como seus ritos, dogmas e procedimentos teológicos. Variam… para permanecer a mesma. 

Chega-se a um tempo da História em que se pode questionar se a geração atual acredita no Deus que elas criaram ou se creem no Deus que as criou. 

O que levará essa metamorfose espiritual? E o que ela significa para o futuro do país? A resposta está nas entrelinhas de um Brasil plural.

Cenário religioso em mutação

O Censo 2022 confirmou uma tendência de décadas: o declínio do catolicismo e a ascensão evangélica. 

Hoje, os católicos representam 56,7% da população brasileira, uma queda em relação aos 64,6% de 2010 e um contraste gritante com os quase 90% de 1970. 

Os evangélicos cresceram de 22,2% para 26,9%, um aumento de 5,2%.

Em Seropédica, na Baixada Fluminense, os católicos, que eram quase 70% em 1991, hoje são apenas 19,5%. Igrejas evangélicas, como a Assembleia de Deus, multiplicaram seus templos, superando as paróquias católicas em número. Apesar disso, o ritmo de crescimento evangélico desacelerou, e a perda de fiéis católicos foi mais tímida do que em décadas passadas.

Há alguns anos, previa-se que os evangélicos ultrapassariam os católicos até 2032. No entanto, vários demógrafos e pesquisadores do fenômeno religioso acreditam que isso só deve ocorrer por volta de 2050. Entre 2010 e 2022, os católicos perderam 7,9 pontos percentuais (0,66% ao ano), enquanto os evangélicos ganharam 4,7 pontos (0,39% ao ano).

Mantendo essas taxas, a diferença atual de 29,8% entre os grupos seria eliminada em cerca de 28 anos a partir de 2022, ou seja, próximo a 2050. 

Vejo essa mudança no ritmo o reflexo de uma dinâmica religiosa mais intrincada do que se imaginava, com fatores sociais e culturais desempenhando papéis cruciais. O futuro da religiosidade brasileira parece mais distante.

Acolhimento e flexibilidade: o apelo evangélico

O Censo 2022 entrevistou 203 milhões de pessoas, mas 8 milhões não responderam — quase 4% da população. Essa lacuna pode ter distorcido os resultados, especialmente para grupos menores. 

Além disso, a que se considera que o IBGE não realizou pesquisas sobre religião nos 12 anos anteriores, criando um vazio de informações que dificulta a análise de tendências.

Especialistas apontam que mudanças na metodologia, como a possível classificação de crianças menores de 10 anos como “sem religião”, podem ter inflado esse grupo, afetando os percentuais de católicos e evangélicos. 

Por que o crescimento evangélico desacelerou? 

Analistas percebem que os católicos estão perdendo menos fiéis, possivelmente devido a iniciativas como o fortalecimento de movimentos carismáticos.

Lendo e relendo esse senso, com recorte da religião em 2022, constato uma flexibilização de valores: os evangélicos adotaram posturas menos rígidas, como a teologia da prosperidade, que vê o sucesso material como uma bênção divina. 

Antes, valores morais estritos geravam limitações, mas hoje essa abertura atrai mais seguidores. O senso de comunidade também é um atrativo poderoso para os fiéis. Afinal, não se precisa queimar muitos neurônios para entender que as pessoas procuram um mundo diferente do atual, e que reflita valores atemporais como justiça, solidariedade, compaixão e amor, e por que não? 

As pessoas abraçarão uma fé religiosa se sentirem que lá são realmente incluídas, respeitadas em seu potencial e em sua individualidade, em seus talentos e em suas formas de conexão com o Sagrado. 

Enquanto escrevo esse artigo lembro de viagem que fiz a nova Deli, na Índia em dezembro de 1986, para participar da inauguração do Templo do Lotus, um belíssimo templo com nove pontas simbolizando as nove religiões mundiais unidas, localizado nos arredores da capital indiana, em Bahapur. No trajeto do hotel ao local do evento um velho Sikh de meia idade, com seu turbante róseo e um brilhante falso da mesma cor me disse: “Lord Khrishna ensinou que não importa por qual nome invoquemos a Deus, ainda assim, Ele nos responderá.”

Pensando bem o que todos desejam é um mundo melhor para viver do que o mundo real em que são obrigadas a viver. 

A aposentada Dulce Albuquerque, que se converteu ao protestantismo, expressa sua experiência com fervor: “Na Igreja Católica, você participa da missa e logo se dispersa, sem laços. A igreja evangélica acolhe de verdade, está sempre de portas escancaradas, oferecendo um suporte contínuo. Deus é único, e aqui encontrei minha paz nono momento da minha vida em que mais precisava disso.”

Observadores analisam que o “efeito Francisco” freou o declínio católico. O Papa Francisco, com sua abertura — foi o primeiro papa a usar a palavra “gay” e a pregar uma mensagem de acolhida —, trouxe um novo fôlego à Igreja. 

No Nordeste e no Sul, os católicos ainda são dois terços da população.

Os evangélicos têm maior presença no Norte e Centro-Oeste. Um traço único do Brasil é o sincretismo: muitos se declaram católicos no Censo, mas frequentam terreiros de umbanda ou candomblé, especialmente no Nordeste. Essa fluidez distorce os números, já que alguém pode ser contado como católico, mas não seguir a Igreja ativamente.

Crenças emergentes e refúgio espiritual

As religiões afro-brasileiras cresceram para 1%, e a religião espírita registrou uma pequena queda. O grupo “sem religião”, que alcança 9,3%, reflete uma tendência de secularização, mais lenta no Brasil do que na Europa, mas significativa entre jovens urbanos. Religiões menos conhecidas, como a Fé Bahá’í, também começam a ganhar espaço no país.

Em um Brasil marcado por desafios como guerras ideológicas, conflitos sociais e individualismo, essas tradições oferecem um refúgio espiritual genuíno. A Fé Bahá’í, com sua mensagem de unidade e igualdade entre todos os povos, acolhe corações em busca de paz. Outras religiões emergentes priorizam a espiritualidade à política, crescendo discretamente e trazendo renovação.

A Fé Bahá’í, em particular, tem raízes que remontam a 1844, quando emergiu com a visão de que todas as religiões compartilham uma essência comum, promovendo a harmonia entre os povos. Seus princípios de igualdade de gênero, educação universal e justiça social ressoam em um mundo fragmentado, oferecendo um caminho para a reconciliação e a unidade espiritual.

Um palco de transformação espiritual

Essa expansão, ainda que pequena, é um sinal esperançoso: em meio a um cenário onde a religião é por vezes usada como instrumento de poder, essas crenças trazem uma brisa de renovação, acalentando mentes e corações com a promessa de harmonia e conexão verdadeira. A religiosidade brasileira se diversifica, abrindo espaço para novas formas de fé.

Pesquisadores comparam a dinâmica religiosa a um palco de teatro onde os atores principais — católicos e evangélicos — trocam papéis em um roteiro imprevisível. Os católicos, com 56,7%, ainda são mais que o dobro dos evangélicos, que têm 26,9%. É uma proporção de 2 para 1, longe de um empate.

Os evangélicos avançam, mas como equilibristas cautelosos, sem a ousadia de um salto mortal que os leve à liderança. Enquanto isso, o grupo “sem religião”, as religiões afro-brasileiras e crenças emergentes como a Fé Bahá’í entram em cena, diversificando o espetáculo. 

A transição religiosa no Brasil é um processo vivo, moldado por fatores culturais e sociais. sem querer ser vidente, imagino que o fenômeno “pastores em busca de votos e não pastores cuidando de ovelhas” já dá sinais evidentes de “fadiga do material”. 

Mais cedo que mais tarde, fiéis de tantas denominações perceberão que tem sido não mais que massa de manobra para que seus líderes alcancem prosperidade material, elejam parlamentares e prefeitos país afora e não dêem trela a visão expressa há 2.000 anos na oração do Pai Nosso: “Venha nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”.

Para compreender melhor essa metamorfose, pesquisas mais frequentes e metodologias precisas são essenciais. 

Até lá, o Brasil seguirá sua jornada espiritual, equilibrando tradição, mudança e uma diversidade que é a essência de sua alma. 

O futuro da religiosidade brasileira promete ser tão plural quanto seu povo, refletindo a riqueza de suas crenças.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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