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Conheça as culturas de Viamão e Rio Grande, cidades do RS com maior número de praticantes de umbanda e candomblé

O Rio Grande do Sul reúne a maior proporção de praticantes de umbanda e candomblé: 3,2% da população declararam ser de religiões afro-brasileiras, segundo o Censo do IBGE divulgado nesta sexta-feira (6). Há uma década, o estado já ocupava o primeiro lugar entre esse grupo. Três municípios gaúchos lideram o ranking nacional de maior proporção de adeptos: Cidreira, Rio Grande e Viamão — todos com 9,3% da população se identificando como umbandista ou candomblecista.

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Esse número é bem maior do que em estados com predominância de pessoas pretas ou pardas, como a Bahia e o Rio de Janeiro, que possuem 1% e 2,5%, respectivamente. Nas capitais destes três estados, Rio possui 3,6% da população do umbanda e candomblé, 6,4% em Porto Alegre e 2,8% em Salvador.

Em Viamão, município com 224.112 habitantes, na região metropolitana de Porto Alegre, onde metade da população se identifica como católica, o percentual de identificados com religiões de matriz africana passa o de espíritas.

Pai Roberto de Bara, de 70 anos, tem uma casa de religião no município há quatro décadas. O local liderado por ele tem práticas de quimbanda, umbanda e nação, o batuque gaúcho, versão regional do candomblé. No ano passado, Viamão passou a ter uma lei tornando práticas e saberes ancestrais de povos e comunidades de matriz africana como parte de seu patrimônio cultural.

— Quando eu cheguei, já tinha religião de matriz africana, hoje temos umas 6 mil casas de religião no município’’, diz ele que é hoje presidente do Conselho Municipal do Povo de Terreiro. — O conselho trata diretamente sobre políticas públicas, isso é muito importante. Nossa maior demanda ainda é o combate ao preconceito.

Pai Roberto de Bara, de 70 anos, tem uma casa de umbanda, quimbanda e batuque no município de Viamão há quatro décadas — Foto: Fernanda Canofre

Pai Roberto, que se identifica como pardo, acredita que a origem através de negros escravizados pode explicar como estas religiões criaram raiz no estado, mas destaca a presença de brancos nestes espaços. O Censo de 2022 aponta que a maioria das pessoas que se identifica entre as religiões afro-brasileiras se autodeclara branca — 42,7%, seguida dos pardos (33,1%).

Além de mais pessoas, ocorreu também uma interiorização dessas religiões. Em 2010, 3,9 mil cidades do país não registravam nenhum adepto da umbanda do candomblé. Já em 2022, esse número caiu para 1,8 mil, menos da metade do patamar de 12 anos antes.

Rio Grande, na região sul do estado, também líder em proporção da população que se identifica com religiões de matriz africana, é considerado o berço do chamado batuque, uma ressignificação à forma como se referiam a praticantes destas religiões no sul. No município de 191.900 habitantes, elas são presença no espaço público, conta Chendler Siqueira, presidente do Conselho Municipal do Povo de Terreiro e coordenador de Políticas de Promoção da Igualdade Racial na prefeitura.

— A cidade é constituída de marcas dessa população. Muito embora essas marcas não estejam nas praças, nos monumentos, nas homenagens erguidas, o cotidiano urbano traz, estratifica e demonstra a presença dessas comunidades — diz ele. — Elas estão em todos os bairros, em todos os locais, nos municípios de Rio Grande, Pelotas, na região sul. É impossível a gente pensar a cidade sem essas comunidades tradicionais dos terreiros, que são espaços de resistência e salvaguarda da cultura e da memória desse povo escravizado.

Na capital gaúcha, o Mercado Público municipal, o mais antigo do país, tem um marco disso em seu centro: o Bará do Mercado. O local, onde se acredita que está assentado um Orixá, uma divindade, é ponto de referência para seguidores de religiões de matriz africana. Nas enchentes de 2024, o maior desastre natural na história do RS, ele também ficou sob as águas.

Um levantamento feito pelo governo do estado junto a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) apontou que 254 terreiros foram totalmente destruídos, e outros 176 tiveram danos parciais. O Ilê Nação Oyó, que existe há cerca de 60 anos no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, foi um dos atingidos. A água ali chegou a cerca de dois metros de altura.

Mãe Ieda de Ogum, de 84 anos, ficou mais de um mês fora da própria casa e de seu espaço sagrado. As imagens tiveram de passar por restauração, e o imóvel precisou de semanas de limpeza e pintura para voltar a ser ocupado.

Mãe Ieda de Ogum, de 84 anos — Foto: Fernanda Canofre
Mãe Ieda de Ogum, de 84 anos — Foto: Fernanda Canofre

O preconceito também incide. Reclamações por barulho, que levam a abordagens e problemas com Ministério Público e Brigada Militar, a PM gaúcha, porém, ainda são as formas mais comuns de expressão de intolerância religiosa no estado, segundo Baba Diba de Iyemonja, Babalorixá no Ilê Asé Iyemonjá Omi Olodô, presidente do Conselho do Povo de Terreiro do estado.

— As pessoas reclamam do barulho do tambor e acabam chamando a polícia, que, às vezes, tem uma abordagem truculenta, ameaça apreender os instrumentos sagrados. Às vezes, até à própria divindade eles dão voz de prisão — relata. — O crescimento da tradição de matriz africana é grande aqui, mas também existe um crescimento de religiões neopentecostais.

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