A imprensa passou a falar do “voto evangélico”, como se fosse possível que indivíduos tão diferentes em classe social, território, raça, gênero, condição financeira, necessidades, herança cultural e familiar etc pudessem votar uniformemente em um mesmo candidato única e exclusivamente por serem evangélicos.
No campo político, a Bancada Evangélica —esse arranjo político que agrega parlamentares tão diferentes e com interesses tão distintos, eventualmente atuando contra um inimigo comum— construiu e consolidou uma “representação evangélica imaginária”, a qual é vendida para mídia, e outros espectros políticos, como sendo detentora das intenções de votos de todos os crentes.
“Conversar com os evangélicos” entrou como mantra de estratégia política de partidos e lideranças à esquerda e à direita, como se fosse possível uma estratégia única de comunicação comum com um grupo para quem a Bíblia é determinante, mas suas interpretações e conexão com a vida cotidiana são tão múltiplas quanto o número de versículos que ela contém.
O Brasil não virou evangélico. Graças a Deus. O Brasil segue sendo diverso, a ponto de mais pessoas, sobretudo os jovens, se assumirem como sem religião; a ponto de mais pessoas aderirem e se assumirem como pertencentes a religiões de matriz africana.
Por outro lado, insistir no debate em torno do declínio católico como uma “perda de espaço” é ignorar a presença, o poder e a influência da Igreja Católica no Brasil, que permanecem vivos e longe de serem ameaçados. É verdade que a queda tem se intensificado, saindo 65,1% em 2010, para 56,7% em 2022.
Mas basta pegar o documento “Cartografia dos Catolicismos Jurídicos Antigênero”, publicado pelo Instituto de Estudos da Religião, ISER. Ali, podemos ver como aborto, tributação econômica, política trabalhista e agronegócio são temáticas fundamentais para organizações católicas conservadoras que atuam no âmbito jurídico.