A arqueóloga Niède Guidon morreu na madrugada desta quarta-feira, 4 de junho, aos 92 anos. Pesquisadora emblemática, ela se formou em história em 1959 e se especializou em arte rupestre na Sorbonne entre 1961 e 1962, qualificação que aplicou em escavações que deram origem ao Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, em 1978. Lá, ficam mais de 800 sítios pré-históricos, 600 dos quais apresentam registros pictóricos, alguns deles os mais antigos ainda preservados no Brasil.
Com evidências encontradas em escavações e pesquisas, Niède defendeu que o povoamento do continente americano teria ocorrido há mais de 50.000 anos, provocando a crença popular de que o fenômeno teria sido mais recente, há meras 15.000 voltas ao Sol. Suas hipóteses continuam a provocar debate dentro da comunidade científica e centralizam o país em questões do homem pré-histórico. Para além dos trabalhos com o parque, Niède fundou o Museu do Homem Americano, em São Raimundo Nonato, e se tornou presidente emérita após sua aposentadoria em 2020, aos 87 anos, motivada por sequelas da chikungunya que afetavam suas articulações.
A nota de luto do Museu do Homem Americano descreve Niède como mais do que cientista e “uma incansável defensora da preservação do patrimônio cultural e natural do país”. De acordo com a instituição que é parte de seu legado, a arqueóloga lutou por décadas junto a sua equipe para garantir investimentos e infraestrutura, apesar do descaso do governo federal. “Sua trajetória é marcada pela paixão, pela persistência e por uma visão generosa da ciência como instrumento de transformação social. Graças ao seu trabalho, milhares de estudantes, pesquisadores e moradores da região foram impactados e a Serra da Capivara se tornou um símbolo de nosso passado mais remoto”, aponta a publicação.
Para além do Museu do Homem Americano, as descobertas de Niède também estimularam a fundação do Museu da Natureza na mesma região. Idealizada por ela em 2002, a instituição só teve financiamento para construção em 2017, sem correção monetária referente aos 15 anos de intervalo. Em entrevista em 2018, ela frisou a VEJA: “A melhor forma de preservar é trazer mais turistas e desenvolver a região“. Niède deixa para os que ficam um patrimônio público nacional altruísta e inestimável.
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