Foragido há mais de seis anos e apontado como o terceiro homem mais influente do Comando Vermelho fora do sistema penitenciário, o traficante Fhillip da Silva Gregório, conhecido como Professor, foi encontrado morto na noite deste domingo. Segundo a polícia, ele chegou já sem vida à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Del Castilho, na Zona Norte do Rio. Professor, que comandava parte do tráfico no Complexo do Alemão, foi atingido por disparos de arma de fogo. Ele estava foragido do sistema prisional e tinha 65 anotações criminais.
Segundo o delegado Leandro Gontijo, da 22ª DP (Penha), o Professor, de 38 anos, foi morto na área da 44ª DP (Inhaúma). De acordo com a Polícia Militar, a guarnição foi acionada às 21h20 deste domingo pelo Centro de Operações para verificar a entrada de um homem baleado na unidade de saúde. Na UPA de Del Castilho, os policiais encontraram a esposa da vítima, Gabriele de Almeida Rangel, e o advogado Eli Florêncio da Luz, que identificaram Fhillip da Silva Gregório como o traficante conhecido pelo apelido de “Professor”.
Quem é ‘Professor’?
Ele era investigado por abastecer o Comando Vermelho com armas, drogas e munições, mantendo contatos com criminosos no Paraguai, Peru, Bolívia e Colômbia. Também é apontado como responsável por negociações com fornecedores internacionais, incluindo a compra de armamentos vindos da Europa.
O GLOBO mostrou no dia 28 de abril que Fhillip da Silva Gregório, o Professor — um dos traficantes mais procurados do Rio e chefe do tráfico em parte do Complexo do Alemão — mantinha contato direto com oficiais da Polícia Militar que comandavam Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) na região. Mensagens extraídas da nuvem vinculada à sua conta de e-mail, obtidas pela Polícia Federal, mostram policiais negociando com o traficante quais áreas da favela poderiam ser patrulhadas e elogiando sua “gestão” à frente do tráfico.
Professor era apontado como o terceiro nome mais influente do Comando Vermelho fora do sistema penitenciário. Em 22 de novembro de 2022, um oficial da UPP da Fazendinha enviou mensagem ao traficante, avisando que seria transferido para Manguinhos e que um major assumiria seu lugar.
“Vai assumir um major aí, sujeito homem. Eu não queria ir, mas não tem jeito. Já vou chegar em Manguinhos com guerra”, escreveu o policial.
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Professor respondeu que falaria com o “dono de Manguinhos” para ajudar na transição e perguntou:
“Deixa esse na mesma sintonia com nós?” Segundo a PF, a expressão se refere ao pagamento de propina para que as atividades do tráfico não fossem interrompidas.
“Quando passar o comando, vou passar tudo pra ele, já até falei com ele”, respondeu o PM, que também pediu providências sobre a circulação de homens armados em determinado ponto da favela.
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“Eu seguro meus policiais. Porque sei que tu é sujeito homem, cumpre tuas palavras.”
Professor prometeu falar com seus subordinados e foi novamente elogiado:
“Tua gestão é boa. O que te deixa mal são os roubos da Canitar. Mas eu tô ligado que não é você.” O policial relatou ainda que o novo comandante já tinha sido informado do canal direto com o traficante e manteria o mesmo número de telefone usado exclusivamente para esse contato:
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“O major pediu para deixar esse mesmo número com ele.”
Uma semana depois, em 30 de novembro, Professor retomou o contato com o novo comandante para reclamar da presença de policiais em áreas próximas ao tráfico:
“Mano, mudou o comando, né? Queria falar sobre uns policiais que tão entrando ali pela Praça do Sagaz e indo no fundo da firma. Nunca tivemos problemas. Fica cada um no seu espaço, pra evitar estresse.”
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Em outra conversa interceptada, Professor pede a retirada de um blindado da comunidade:
“Saiba que aqui sempre vai ter um diálogo, mas eu não sou bobo. Tenho a força, ninguém tem mais soldado e fuzil que eu na facção, nem por isso fico de arrogância.” O policial responde:
“Suave, já desenrolei. Ordem era pra colocar o blindado no Engenho. Mas já quebramos.”
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Na sequência, o traficante expõe a lógica do acordo com a polícia:
“O cara lá de cima pediu pra dar uma segurada no morro. Eu seguro. Mas falei: ‘Deixa a Coreia e não faz operação por roubo que senão eu mando roubar tudo’. Meu bagulho é droga. Hoje, o GAT já tava na Coreia. Deixa meu bagulho andar, mano.”
Essas conversas fazem parte da investigação que culminou na Operação Dakovo, deflagrada em dezembro de 2023. Na ocasião, 28 pessoas foram denunciadas por tráfico de 43 mil armas do Paraguai para facções criminosas brasileiras. Segundo a PF, Professor era o principal responsável pelas compras de armas para o Comando Vermelho e mantém contatos com criminosos no Paraguai, Peru, Bolívia e Colômbia. Ele teve prisão decretada pela Justiça Federal da Bahia, mas nunca foi localizado.