O STF inicia nesta segunda-feira (19) os depoimentos da ação penal que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado após a eleição de 2022. O processo, conduzido em ritmo acelerado pelo STF, é alvo de críticas por parte das defesas dos acusados, que alegam cerceamento e acesso limitado às provas. Ex-comandantes das Forças Armadas — Freire Gomes (Exército), Baptista Júnior (Aeronáutica) e Almir Garnier (Marinha) — começaram a prestar depoimentos. Gomes e Baptista afirmaram que foram pressionados por aliados de Bolsonaro, mas rejeitaram qualquer articulação. Garnier, segundo os outros dois, teria sido o único a sinalizar apoio, mas ele próprio nega envolvimento.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, que responde junto a militares e ex-ministros, teve seu pedido de adiamento das audiências negado, mesmo apontando dificuldades técnicas no acesso ao material.
A defesa de Bolsonaro solicitou acareação com os militares para esclarecer contradições. Segundo os advogados, há inconsistências nos relatos, e muitos pontos das acusações não condizem com a realidade. Fabio Wajngarten, advogado do ex-presidente, criticou o general Freire Gomes por “memória seletiva”.
Mesmo sob críticas à condução do processo e à atuação do relator, Alexandre de Moraes conta com apoio quase total da Primeira Turma do STF. O único ministro a questionar a condução dos julgamentos tem sido Luiz Fux, que demonstrou preocupação com o rigor das penas e a abrangência do processo.
Conversas vazadas de Figueiredo e Mauro Cid acendem debate sobre “armadilha”
Novas revelações provenientes do telefone celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, trouxeram à tona mensagens de áudio do comentarista político Paulo Figueiredo Filho, lançando luz sobre os momentos cruciais do dia 8 de janeiro de 2023. Os áudios revelam um apelo desesperado de Figueiredo para que Bolsonaro condenasse publicamente os atos de invasão aos prédios dos Três Poderes em Brasília.
Às 16h36 daquele dia, em meio ao caos que se desenrolava na capital federal, Figueiredo enviou uma mensagem a Cid, expressando sua preocupação e urgência: “Estupidez sem tamanho. O presidente Bolsonaro precisa se manifestar contra isso agora. Pelo amor de Deus. Eu estou no ar na Jovem Pan.” Os prints da conversa, divulgados recentemente pelo UOL, fazem parte do inquérito da Polícia Federal que investiga a suposta omissão de Bolsonaro e evidenciam a tentativa de aliados próximos de conter os excessos e evitar uma escalada da crise.
Figueiredo, em declarações posteriores, afirmou ter entrado ao vivo na Jovem Pan naquele dia para alertar sobre a “estupidez” dos atos, prevendo prisões em massa e uma repressão generalizada. O comentarista comparou a situação ao 6 de janeiro nos Estados Unidos, sugerindo que o 8 de janeiro no Brasil teria sido uma “armadilha” orquestrada. As mensagens de Figueiredo, agora divulgadas, contradizem a narrativa de que Bolsonaro teria apoiado ou incentivado os atos, revelando que aliados próximos estavam alarmados com o desenrolar dos acontecimentos.
Sarney diz que 8/1 não foi golpe e critica judicialização política
O ex-presidente José Sarney (MDB) afirmou que não houve tentativa de golpe de Estado nos atos de 8 de janeiro, classificando o episódio como parte de um excesso de judicialização da política e de politização da Justiça. Segundo ele, o Supremo Tribunal Federal (STF) precisa encarar os fatos com mais objetividade e considerar a precariedade do sistema penitenciário brasileiro, que, em suas palavras, “é uma escola do crime”.
Sarney defende que punições devem ser proporcionais e que não agravem a superlotação carcerária. Ele também cita o ex-ministro Nelson Jobim como o primeiro a apontar esse fenômeno da judicialização.
Sobre a eleição de 2026, Sarney comentou que, caso o ex-presidente Michel Temer esteja articulando uma candidatura de direita moderada, o MDB precisará debater internamente. Ainda assim, declarou apoio ao presidente Lula, avaliando que ele “tem feito bons governos”.
STF mantém ação parcial contra Ramagem
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou a suspensão parcial da ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ). A decisão segue entendimento da Primeira Turma da Corte, que manteve três dos cinco crimes imputados pela PGR. Ramagem seguirá como réu pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Já os crimes relacionados a danos materiais nos atos de 8 de janeiro foram suspensos até o fim do mandato, pois teriam ocorrido após sua diplomação. A suspensão passa a valer desde 14 de maio, data da publicação do acórdão.
A Câmara dos Deputados, que havia aprovado a suspensão total do processo, recorreu da decisão, acusando o STF de invadir a esfera política e pedindo que a Corte siga integralmente a deliberação do Legislativo. A ação será julgada separadamente pelo Plenário do STF.
Dino vira estrela do STF e rivaliza com Moraes em ativismo e embates políticos
Desde que chegou ao STF em fevereiro de 2024, Flávio Dino se tornou um dos ministros mais midiáticos e combativos da Corte. Com decisões polêmicas, embates com o Congresso e críticas públicas à OAB, Dino tem rivalizado com Alexandre de Moraes em protagonismo. Suas ações têm gerado controvérsia ao misturar política e Judiciário, levantando suspeitas de conflito de interesse e reacendendo o debate sobre os limites da atuação dos ministros do Supremo.
Lula discute CPMI do INSS para conter crise
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com ministros e líderes do governo nesta sexta-feira (16) para discutir a crise no INSS e a possível instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigará fraudes bilionárias em aposentadorias. O tema divide o governo: enquanto Lula e ministros temem danos políticos e interferência nas investigações da Polícia Federal e CGU, o ministro da Previdência, Wolney Queiroz, se declarou pessoalmente favorável à CPMI, mas alertou para o risco de ela virar palco político.
A oposição já reuniu as assinaturas necessárias para instalar a comissão, mas o aval depende de Davi Alcolumbre (União-AP), presidente do Congresso. Há a possibilidade de ampliar o escopo da CPMI para incluir irregularidades desde o governo Jair Bolsonaro (PL), o que pode atrair até parlamentares da base governista.
O governo ainda tenta barrar ou minimizar os impactos da CPMI, mas já reconhece que a retirada de assinaturas é pouco provável e pode adotar um tom mais combativo para conter danos políticos.
O programa Entrelinhas, transmitido ao vivo no canal da Gazeta do Povo no YouTube, vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 15h. Apresentado pela jornalista Mariana Braga, com comentários de Frederico Junkert e participações especiais, o programa oferece análises aprofundadas sobre os principais temas da política nacional.