Cidades do interior de São Paulo e do Paraná lideraram, na última década, como as mais desenvolvidas do país, segundo o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), divulgado nesta quinta-feira pela entidade industrial do Rio. O estudo leva em conta três áreas que indicam o nível de desenvolvimento das cidades: saúde, educação e geração de emprego e renda.
- FGV: Parcela de brasileiros na pobreza caiu de 28% para 25% no ano passado
- IDH: Brasil fica estagnado em educação no ranking, apesar de melhora na saúde e na renda
O indicador analisou a situação de 5.550 municípios brasileiros, considerando esses setores. A pesquisa mostra quais municípios tiveram os melhores e os piores resultados combinados nesses temas entre 2013 e 2023, com base em dados oficiais.
No topo da lista está Águas de São Pedro (SP), uma cidade do interior do estado que fica a 187 quilômetros da capital. Com menos de 3 mil habitantes, segundo o Censo 2022, do IBGE, a cidade ocupa uma área de apenas 3,61 quilômetros quadrados. É o menor município paulista e o segundo menor do país.
- IDH: Brasil cai 21 posições no ranking quando se considera a desigualdade
Para se ter dimensão do tamanho da cidade, Águas de São Pedro (SP) chega a ser menor do que o bairro do Itaim Bibi (SP), que tem dez quilômetros quadrados, segundo o City Population Statistics, que se baseia em pesquisas anteriores do IBGE. O Censo 2022 ainda não divulgou a informação territorial dos bairros.
Com índice de 0,9676 em 2023, a cidade do interior de São Paulo já ocupou o primeiro lugar do ranking em outras quatro edições da série: em 2013, 2016, 2018 e 2021. Outras cidades que marcam presença no ranking são São Caetano do Sul (SP), Maringá (PR) e Americana (SP), todas com índices acima de 0,88.
- Islândia em primeiro: veja o ranking dos 10 países com o melhor IDH
A única capital do país que conseguiu fazer parte da lista dos municípios mais desenvolvidos na última década foi Curitiba (PR).
Pelo menos 249 municípios no país apresentam nível crítico de desenvolvimento, marcadas pela falta de médicos, de professores qualificados e empregos formais.
Nessas cidades, as internações por doenças ligadas à falta de saneamento são 20 vezes maiores. Ainda assim, mais de 60 milhões de brasileiros estão em municípios com menos de um médico por mil habitantes.
Mais de um quarto da população brasileira (26,7%) vive em cidades com condições precárias de desenvolvimento.
Cidades no topo colhem os frutos de políticas de longo prazo
Apesar dos bons resultados entre cidades de uma mesma região, os economistas responsáveis pelo estudo dizem que não há uma receita única que explique os desempenhos positivos.
Segundo Jonathas Goulart, gerente de Estudos Econômicos da Firjan, essas cidades têm perfis econômicos diferentes, e passaram por diferentes gestões ao longo do tempo. De forma geral, porém, ele considera que os resultados estão ligados à continuidade de políticas públicas bem estruturadas.
- Ancelmo Gois: classes ABC ganham 14,8 milhões de novos integrantes em dois anos, aponta FGV
— É fruto de bons gestores ao longo da década — conclui Jonathas.
No caso de Águas de São Pedro, por exemplo, trata-se de uma cidade turística que mantém bons indicadores há bastante tempo, diz:
— É um bom município. Os resultados em saúde e educação são visíveis, mas você só consegue ter um resultado efetivo depois de um bom tempo. Você forma professores, investe na rede, e isso só aparece como boa nota no Ideb anos depois.
Menos desenvolvidas se concentram no Norte e Nordeste
Na outra ponta, cidades do Norte e Nordeste amargam os piores níveis de desenvolvimento municipal. Um padrão observado ao longo de toda a década, apontam os economistas.
- Você sabe qual é sua classe social? Responda às perguntas na ferramenta do GLOBO e descubra
A cidade de Ipixuna, no Amazonas, teve o pior desempenho no ranking de 2023, com índice de desenvolvimento apenas 0,1485. Outros municípios como Jenipapo dos Vieiras (MA), Uiramutã (RR), Jutaí (AM), Santa Rosa do Purus (AC) e Oeiras do Pará (PA) ficaram entre os últimos colocados.
Segundo Goulart, são municípios que historicamente ocupam as últimas posições. A maioria enfrenta infraestrutura precária, falta de profissionais de saúde e educação, e um mercado de trabalho muito inicial.
— Eles têm um mercado de trabalho incipiente, com atividade econômica fraca. Falta médico. Têm mais internações pelo saneamento inadequado. Falta professor, falta escola, os alunos têm notas ruins, os professores não têm formação adequada… Isso retrata de maneira clara o que não conseguimos visualizar só olhando os números.
Marcio Felipe Afonso, especialista em Estudos Econômicos da Firjan, lembra que essas regiões passam por um ciclo de desenvolvimento crítico, difícil de ser revertido. Além dos problemas básicos, como falta de estrutura e serviços, essas cidades ainda tem o desafio da questão geográfica, diz:
— São regiões mais afastadas, de difícil acesso. Elas têm infraestrutura inadequada, e enfrentam a dificuldade de ter médicos que queiram ir lá. A saúde básica fica comprometida.