Preso na última sexta-feira, o ex-presidente Fernando Collor trouxe à tona um raro isolamento político de ex-ocupantes do Palácio do Planalto desde a redemocratização. Collor, que alternou alianças ao longo da última década com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e com o PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se viu sem grupo político em seu estado, Alagoas, desde que foi derrotado na eleição ao governo local em 2022. A prisão gerou um anúncio de expulsão do PRD, seu último partido, e foi recebida com silêncio por antigos aliados.
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Em sua última participação nas urnas, há três anos, Collor concorreu a governador de Alagoas, mesmo cargo que o projetou para a eleição presidencial de 1989. O desempenho em 2022, com cerca de 14% dos votos válidos, foi o pior de Collor. Antes, ele já havia tentado retornar ao Executivo estadual em outras duas ocasiões — em 2002, sua primeira eleição após o impeachment, e em 2010 —, sempre com votação em queda na comparação com a tentativa anterior.
No último pleito, Collor inaugurou uma aliança com o bolsonarismo e formou chapa tendo como vice um vereador do PL, Leonardo Dias. Apesar dos acenos do ex-presidente, Bolsonaro evitou entrar na campanha de Collor para não se indispor com o então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que apoiava outro candidato.
— O presidente Bolsonaro é um grande parceiro de Alagoas e do Nordeste. Por isso e pelas bandeiras que ele defende, sou pela sua reeleição e pelo diálogo permanente entre o estado e o governo federal — afirmou Collor na ocasião.
Até então, Collor vinha de uma sequência de participações eleitorais como aliado do PT, durante o período em que Lula e Dilma estiveram na Presidência. Em 2014, além de pregar voto na reeleição de Dilma, o então senador levou para sua propaganda eleitoral o trecho de um pronunciamento da então colega de Congresso, Gleisi Hoffmann (PT-PR), hoje ministra de Relações Institucionais, com uma deferência a Collor.
— Ex-presidente Fernando Collor, que me antecedeu nesta tribuna: o ditado diz que a verdade é um barco que balança, mas não afunda, e o tempo é sempre o senhor da razão — disse Gleisi à época.
A fala de Gleisi ocorreu após um pronunciamento de Collor, em 2014, no qual o ex-presidente criticava investigações judiciais relacionadas à sua passagem pelo Planalto, e comemorava o fato de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter trancado todos os inquéritos de que era alvo à época.
Apesar dos acenos, a aproximação de Collor com o PT foi usada por adversários de Lula de Dilma para criticar os acordos políticos feitos pelo partido, e o ex-presidente acabou “escondido” nas campanhas.
Em Alagoas, Collor também viveu idas e vindas em alianças com o senador Renan Calheiros (MDB-AL). Nos últimos anos, caciques locais passaram a opinar, reservadamente, que Collor fez uma opção pelo isolamento, devido ao costume de tomar decisões intempestivas — como quando se lançou ao governo estadual, em 2018, mas se retirou da disputa a menos de um mês do pleito.
Um de seus raros aliados na última eleição, em 2022, foi o prefeito de Limoeiro de Anadia, Marlan Ferreira (PP), único município alagoano em que Collor foi mais votado do que os rivais ao governo. Ferreira não se manifestou sobre a prisão de Collor.
No ano passado, o ex-presidente se absteve das urnas e decidiu lançar um sobrinho, Fernando Lyra Collor. Candidato a vereador de Maceió pelo PSB, Fernando fez campanha junto do tio, e terminou com 569 votos. O resultado o deixou como sexto suplente do partido, que elegeu dois vereadores. Ele também silenciou sobre a prisão do tio, um dia depois de ter recebido uma reunião de prefeitos alagoanos em um resort da família.
Já o PRD comunicou o cancelamento da filiação do ex-presidente devido à prisão. Integrantes da legenda afirmam que Collor era distante da cúpula partidária e não interferia em decisões. O líder da sigla na Câmara, Fred Costa (MG), diz que o ex-senador havia passado “despercebido” até então.